Arquivo de etiquetas: pessoas

Josh & Nero

O Josh e o Nero passaram uma noite em nossa casa no início de Junho, via Warmshowers. Foi assim de raspão, não era o dia ideal, e foi um pedido em cima da hora, no próprio dia, mas aceitámos de qualquer modo porque ali estava alguém que tinha largado tudo para viajar, de bicicleta, com um cão, como nós queremos fazer. 🙂

Antes de aceitar o pedido, ao analisar o perfil dele, encontrei um post sobre a segurança dos cães neste tipo de viagem, uma leitura prévia útil. Outro texto interessante é sobre viajar com um orçamento limitado. O dele é de 400 € por mês, e é bastante frugal. Quando se vê a coisa assim, concretizada, bate uma hesitação: “se calhar devia desistir desta ideia, não tenho poupanças e não vou conseguir ‘fazer’ 400 € por mês enquanto viajo“. E quem diz dinheiro diz montes de outras coisas que nos passam pela cabeça. Como diz o Josh, a nossa velha amiga “Falta de Confiança”.  O Josh partilhou algumas das suas histórias e experiências e o Nero deu-se bem com a Mutthilda, brincaram um bocado à bola no logradouro. O Josh publicou recentemente um pequeno vídeo para relembrar e comemorar os 3 meses de viagem entre o Reino Unido e Portugal, que agora terminam, que gostaria de partilhar também aqui:

As we come to the end of a chapter. I've made this little video about some of the places I've been, the cultures I've experienced and most importantly all the amazing people I've met. Happy Thursday people, it's nearly the weekend!! Love Nero and Me xxx

Posted by Nero & Me on Thursday, June 18, 2015

Como estás, onde estás?

O Baden e a Shelley levaram as suas bicicletas de touring ao Bicycle Repair Man para fazer uma revisão alargada antes de viajarem para a América Latina, onde continuarão a sua viagem de regresso à Nova Zelândia, iniciada em Londres, onde ambos viveram nos últimos anos. Um nosso cliente de Aveiro, com quem este casal ficou alojado via rede Warmshowers, recomendou-lhes a Cenas a Pedal e foi assim que nos cruzámos. Tivémos oportunidade para conversar um pouco sobre como é andar de bicicleta em Lisboa e eles ficaram curiosos com a Escola de Bicicleta, pelo que acabámos por conversar mais sobre isso. A Shelley gravou um pequeno trecho da conversa para incorporar num futuro podcast. Sim, porque eles publicam um podcast sobre a viagem, ou um ‘audio travelogue‘! cujo blog geral está aqui: HAYWAY – How Are You Where Are You?. já ouvi alguns, comecei pelos feitos já em terras lusas, e gostei bastante. Foi particularmente curioso porque são os primeiros viajantes que conheço que o fazem, e porque é uma ideia que nós próprios temos entretido há algum tempo. Infelizmente não houve tempo de conversar mais – eles partiam na manhã seguinte, de comboio, para Madrid, mas queria perguntar-lhes como era a produção do podcast, quanto tempo levam a produzir cada episódio, que ferramentas usam, etc. Entretanto já percebi que pelo menos o Baden trabalhou na área da rádio, e têm ambos profissões relacionadas com jornalismo / comunicação, pelo que é mais fácil perceber a opção, e a qualidade do podcast.

Deixou-me com determinação redobrada em incorporar um podcast na nossa viagem!

O Paradoxo das Férias

Wanderlust é uma expressão derivada do alemão: wandern’ ‘’a vagar’’, e Lust, ‘’desejo’’. É comumente definido como um forte desejo de viajar, ou de ter um forte desejo de explorar o mundo.

Não é somente um simples desejo, é uma sensação que toma todo o corpo e a mente, e em uma seqüência de fatores, incluem-se uma sensação de desconforto nas pernas, nos músculos, e aquele desejo incontrolável de ir, de seguir um rumo qualquer em direção ao desconhecido ou a algum lugar que se vá encontrar algo novo, que é a razão daquele desejo de ir.

In Wikipedia

Buscar sítios desconhecidos e situações novas causa excitação e medo, e estimula a aprendizagem. Ao buscar o novo e o desconhecido, estamos a carvar novos caminhos neuronais no nosso cérebro.

A exposição a coisas e situações novas aumenta a plasticidade do nosso cérebro, optimizando-o para a aprendizagem, e fá-lo libertar dopamina, que nos motiva a ir explorar em busca de uma recompensa. Ou seja, viajar faz-nos querer continuar a viajar. É adictivo. Logo, wanderlust!

Os níveis de serotonina aumentam com a exposição à luz solar e exercício físico, logo, viajar de bicicleta faz-nos sentir mais felizes.

Experiências novas, divertidas e excitantes provocam a libertação de dopamina e norepinefrina, criando o mesmo cenário bioquímico da paixão. Ou seja, são boas para manter casais juntos e apaixonados. Um interessante efeito colateral para quem viaja com a sua cara metade.

E, finalmente, a exposição a coisas e situações novas provoca uma percepção deformada do tempo. Durante a viagem ele corre, mas depois da viagem aquele tempo parece expandido.

The routine is the enemy of time. It makes it fly by.

The Thousand Year Journey: Oregon To Patagonia from Kenny Laubbacher on Vimeo.

Este pequeno vídeo merecia ser legendado para português, pois expressa bem a forma como a busca activa por algo novo altera o nosso funcionamento cerebral, e como está no nosso controlo fazer esse ‘hack‘ a nós próprios.

A sensação de nos sentirmos crianças de novo tem a ver com isto, para uma criança tudo é novo, ela não tem que buscar novidade e aventura, todos os dias se aprende algo novo. Para um adulto não é assim, been there, done that, tudo é familiar, padronizado, rotineiro, e para aprendermos algo novo e para sentirmos aquela sensação de espanto com o mundo, temos que trabalhar para isso, temos que sair da zona de conforto e buscar activamente o desconhecido.

O Jedidiah Jenkins (entrevista pré-viagem aqui), do vídeo acima, fala bastante da percepção do tempo, ou seja, da sua tentativa de, através da busca por coisas novas e excitantes, conseguir fazer com que o tempo dure mais tempo, e assim, quando chegar a velho, não ter aquela sensação de “o tempo passou a correr“.

Ele está a tirar partido da forma como nós avaliamos o tempo, que pode produzir experiências contraditórias de percepção do mesmo. O Paradoxo das Férias é o fenómeno de sentir que as férias passam a correr quando estamos nelas (estimativa prospectiva do tempo), mas depois que estas terminam e nós voltamos à rotina do dia-a-dia, lembramo-nos daquelas mesmas férias (estimativa retrospectiva do tempo, pela memória) como tendo sido muito mais longas do que efectivamente que foram.

Quando estamos a fazer algo novo e interessante e agradável – como quando estamos de férias – o tempo parece passar mais rapidamente do que quando estamos aborrecidos ou ansiosos. Mas quando olhamos para trás para recordar essa altura, a nossa avaliação do tempo baseia-se em quantas novas memórias individuais criámos durante aquele período. Ou seja, o Jedidiah terá sentido que o tempo passava a correr durante a sua viagem, mas mais tarde, quando se recordar dela, vai sentir que ela durou muito mais tempo do que os 17 meses que efectivamente levou.

Resumindo, viajar de bicicleta é bom para o cérebro, para o corpo, para o amor, para a memória, para a aprendizagem, e para a velhice. We. Need. To. Just. Go.