Arquivo mensal: Julho 2013

Um Sub-12 para aquecer

Domingo.

Plano: levantar “cedo” e ir dar uma volta a Manique do Intendente, na Azambuja (a tempo de ver passar os ciclistas), apanhando boleia com a CP. Um passeio de menos de 12 horas. Não é ainda uma escapadinha, uma “viagem”, porque voltaremos a tempo de dormir na nossa cama.

Problema: os dias de trabalho extra-longos cobram-se, e só nos conseguimos levantar às 12h. 😛

Mas é Domingo e vamos curti-lo sem stress. Saímos lá para as 13h30, rumo à estação de Campolide. Nota negativa: sinalética em falta, demoramos a perceber para onde temos que ir, onde estão as máquinas dos bilhetes. Nota positiva: os elevadores existem, funcionam e são grandes o suficiente para caber uma longtail.

Compramos os bilhetes (cerca de 2.50 € cada, só ida). Esperamos uns 15 minutos até chegar o comboio suburbano que nos levará até à estação da Azambuja. Conseguimos identificar o símbolozinho da bicicleta numa das primeiras carruagens e corremos um pouco para lá. Entramos e há bastante espaço para arrumar as biclas, apesar de ficarem sempre no meio do caminho – mas não há quase ninguém no comboio e sobra espaço para passarem pessoas de roda da bicicleta, menos mal.

Biclas no comboio suburbano Lisboa-Azambuja

Para não estarmos com medo que elas caiam e se danifique alguma coisa ou que magoem alguém, prendemo-las ao pilar com as Rok Straps (grande invenção!).

Rok Straps rule

Chegamos à estação da Azambuja. Felizmente há elevadores e estão a funcionar. Problema: são curtos e não cabem lá as biclas normalmente.

Elevador da estação da Azambuja

Solução: biclas ao alto! Tudo OK.

Bicla ao alto no elevador da estação da Azambuja

E lá vamos nós a pedalar. O percurso de ida foi mais ou menos este, num total de 22 Km:

Ver mapa maior

A dada altura decidimos por um caminho mais “directo”, que no início tinha um sinal de proibição a camiões (“porque será?”, pensámos nós). Bom, por isto, possivelmente…:

Uphill...

Ai, que bem que soube a assistência eléctrica naquele troço de 16% de inclinação. 😛

Lá ao fundo, naquela encosta cheia de árvores, já se via a Herdade da Hera, o nosso destino do dia.

Herdade da Hera

Mas mesmo que tivéssemos tido que pedalar por aquela subida só com a força das nossas pernas (ou empurrar a bicicleta ao longo da mesma), o que sabíamos que iríamos encontrar do outro lado, mais tarde ou mais cedo, dar-nos-ia sempre algum ânimo. Aprendi em Sevilha a apreciar as subidas. Sem subidas não há descidaaaaaaaaaaaaaaaaas! 🙂

descida

Como as nossas biclas de touring ainda não tinham chegado, levámos as biclas do dia-a-dia (quem não tem cão caça com gato), que se portaram muito bem, claro.

Pedelec Kalkhoff Agattu C7 como bicla de passeio

Pedelec Surly Big Dummy como bicla de passeio

Chegámos à Herdade da Hera cerca das 17h. Hora mesmo fixe para almoçarmos. 😛

Herdade da Hera

A Herdade da Hera ainda não está aberta ao público (nós somos visitantes com privilégios 😛 ), mas quando estiver será um sítio onde os ciclistas viajantes (e não só) poderão comer, descansar, acampar, e entreterem-se com várias outras actividades (equitação, quinta pedagógica, observação de estrelas / astroturismo, etc).

Herdade da Hera

Depois de atestados de combustível (vários tipos, incluindo pão-de-ló), conversa posta em dia, e umas voltas pela herdade, era hora de voltar. Queríamos evitar andar de noite (íamos pela N3) mas já não foi possível. Este percurso é “por alto”, mas terá andado à volta disto, mais uns 24 Km de volta:


Ver mapa maior

Compramos os bilhetes, mais uma voltinha nos elevadores, e esperamos uns minutos pelo comboio.

Estação da Azambuja

Mais uma hora de viagem, e desta vez saímos em Alcântara-Terra (não queríamos ir às 23h descobrir uma alternativa de acesso para sair da estação de Campolide, que não envolvesse uma subida pior do que aquela de 16% e muito muito mais longa…).

Biclas no comboio suburbano Lisboa-Azambuja

Ou seja, pedalámos ao todo cerca de 50 Km (e viajámos de comboio 2 horas). Por estradas nacionais e por estradas locais com pouco movimento, e outras com nenhum movimento. Sempre em bom asfalto. E mesmo o troço na N3, na parte sem berma, à noite, com algum movimento, foi pacífico.

Foi muito fixe. 🙂

Havemos de repetir brevemente mas já com as LHTs e o equipamento base, e acampando, para testar minimamente a cena toda com um S24P (Sub-24 Pernoitando). 🙂

Literatura

Bom, vasculhando a biblioteca (analógica) cá de casa, os volumes disponíveis com relevância para esta nossa viagem são:

Na web vamos começar por estes:

É hora de estudar um pouco! Têm outras sugestões (dentro do português e inglês, de preferência, sendo que também tiro alguma coisa do espanhol e francês)?

The Ride Round

Fonte: The Ride Round

Depois mais tarde temos que ponderar que literatura levamos connosco, mas essa não tem que ser sobre bicicletas. 😛

* claro que isto não é uma volta ao mundo, nem nós vamos andar longe da civilização ou coisa que o valha, mas saber mais ou refrescar o que já se sabe, é sempre bom, e fica para as outras viagens que vierem 😉

Rota atlântica

Como referi anteriormente, esta viagem pretende levar-nos até S.B. de Messines, pela costa alentejana e depois pela algarvia. Por isso comecei a pesquisar testemunhos de outras pessoas que tivessem feito mais ou menos o mesmo, para retirar dicas úteis para preparar a viagem.

Praia do Zavial - panorama

Numa relativamente curta e simples sessão de Googlismo agora encontrei os seguintes relatos de viagens similares:

Alguém conhece outros? E que queira partilhar aqui? 🙂

As dicas que queremos apanhar estão relacionadas com a escolha de rotas, sítios onde ficar, coisas para ver, cuidados a ter, problemas encontrados e respectivas soluções arranjadas, etc.

Depois há outros recursos de rotas conhecidas que queremos estudar, mas que acho que não servirão para nós, que vamos de bicicleta e não a pé*, e que não vamos de BTT:

* eu gosto muito de andar a pé e agrada-me a ideia de sair por aí a pé, mas o facto de ter escoliose e tendência para má circulação e pernas pesadas faz com que a bicicleta me ofereça uma alternativa muito melhor: permite-me exercitar as pernas (necessário para activar a circulação), mas sem estas terem que suportar todo o peso do meu corpo, e ainda carrega toda a bagagem, em vez de ter que a acartar eu às costas. Além disso, ando a 18 Km/h com o mesmo dispêndio de energia de andar a pé a 4.5 Km/h, o que é útil quando se tem 300 Km para percorrer e o tempo contado. 😉

E depois há a Ecovia do Algarve, pensada também para bicicletas, embora a reputação não seja a melhor (falta de sinaléctica e conectividade).

São duas biclas de touring ali para a mesa do canto, sff

Estas são as nossas biclas do dia-a-dia:

Bicycle Repair Man Mobile!

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São ambas pedelec (bicicletas com assistência eléctrica), uma longtail Surly Big Dummy e uma Kalkhoff citadina, ideais para as nossas necessidades pessoais e profissionais de mobilidade e transporte quotidiano em Lisboa. Fazemos tudo com elas, raramente precisamos de recorrer a outro meio de transporte. Quando vamos passear, também é com elas. E portam-se muito bem. Mas para viajar, em autonomia (ou seja, carregados), fazer muitos quilómetros, horas seguidas em cima da bicicleta, e eventualmente andar a caminhar com elas ao lado por estradas de areia, como se prevê, e transportá-las em comboios e autocarros, possivelmente semi-desmontadas, pensámos que fazia sentido investir em duas bicicletas mais adaptadas para o efeito, a nível de geometria, posição de condução, e especificações.

A escolha óbvia foi um par de Surly Long Haul Truckers.

Surly Long Haul Trucker

Serão basicamente iguais à da foto, mas com o quadro em preto, e uma roda dianteira diferente, construída à volta de um cubo com dínamo. E alguns outros extras encomendados logo de origem.

Num cenário ideal teríamos mandado vir os quadros e depois escolhido e montado os componentes a la carte. Mas isso exigiria mais tempo do que aquele que temos disponível agora (para escolher, mandar vir, e montar), e a conta ficaria mais alta, provavelmente, o que não seria viável agora. Além disso, dado que profissionalmente lidamos com a marca, pareceu-nos mais interessante experimentarmos em primeira mão a configuração da bicicleta de origem, e só mais tarde, como muitos quilómetros de teste em cima, começar a brincar e mudar os componentes à medida da evolução das nossas experiências e preferências pessoais.

Estamos com alguma curiosidade com a geometria de touring e meio ansiosos com a posição de condução e com os dropbars, vai ser uma experiência nova, e que contrastará muito com a posição bastante direita e guiadores citadinos que usamos e gostamos nas nossas bicicletas do dia-a-dia. O conforto possível virá do quadro em aço e dos pneus 2.0″ (o máximo com pára-lamas são 2.1″), visto que a bicicleta não tem suspensão no quadro, no garfo, no espigão do selim nem no próprio selim (estamos mal habituados :-P).

A escolha do modelo da bicicleta prendeu-se com a sua sólida reputação de bicicleta de viagens de longa distância, em autonomia (ou seja, carregada!), embora também eficaz para a cidade (queríamos algo também para passeios mais curtos ao fim-de-semana, por exemplo, ou para alguns tipos de deslocações urbanas do dia-a-dia), e assim ficaremos com dois exemplares de demonstração na loja, o que é sempre útil. 🙂 Dois links úteis e interessantes para começar a explorar este tema são este e este.

Serão ambas de roda 26″, apesar do Bruno ter altura para escolher o tamanho dele, 56, com roda 700c (o meu tamanho, 42, só existe com roda 26″). As vantagens são:

  • uniformização nas peças suplentes: ambas as bicicletas usam o mesmo tamanho de aros, raios, pneus e câmaras de ar,
  • uniformização nas velocidades a rolar: uma roda 700c, devido à maior inércia face a uma de 26″, depois de estar a rolar mantém mais facilmente / por mais tempo a velocidade, o que levaria a que eu tivesse que me esforçar mais para manter a mesma velocidade do Bruno,
  • conforto: podemos usar pneus mais largos, neste caso serão 2.0″ mas podemos ir até 2.1″ (com rodas 700c e pára-lamas só dá para ir até aos 1.65″)
  • robustez: rodas 26″ são mais robustas que rodas 700c, o que é relevante em viagens em que a bicicleta vá muito carregada

Os extras básicos

Não temos dúvidas da importância que usar boas luzes tem no conforto e segurança da bicicleta, e não temos pachorra para andar a transportar, carregar e controlar pilhas, pelo que um dínamo de cubo era um item básico na lista de equipamento. Por isso pedimos logo ao nosso fornecedor para as biclas trazerem já montado um dínamo de cubo SON 28. Os SON são fiáveis e os 5 anos de garantia inspiram confiança (tenho um SON XS na Birdy e porta-se bem).

SON 28

Escolhemos este em vez do SONdelux porque o SON 28 é o mais indicado quando é preciso mais luz a velocidades mais baixas, ou quando se pretende usar outros dispositivos ou carregar as suas baterias (eventualmente chegaremos a investir mais tarde num USB-Werk da Busch und Muller ou similar para carregar os telemóveis nas viagens).

Para usar com o dínamo, o Bruno escolheu a luz dianteira de LED SON Edelux pela sua capacidade de iluminação da estrada, nomeadamente a velocidades mais elevadas, fiabilidade, durabilidade, sensor e luz de paragem, e ser à prova de chuva!

SON Edelux

Os pára-lamas que mandámos vir logo foram os Hebie Viper. Feínhos, coitados, mas leves e práticos.

Heie Viper

E, claro, os porta-bagagens, um para trás e outro para a frente. Optámos por dois modelos da Hebie, o Expedition 190 e o Expedition Low Rider 195.

Hebie Expedition 190 Hebie Expedition Low Rider 195

O 190 é fixe porque tem um segundo par de carris mais abaixo, o que permite colocar o peso nos alforges mais abaixo também, e mais facilmente fixar outros sacos ou o que seja no topo, e mantém a luz traseira mais protegida numa espécie de reentrância. E aguenta até 40 Kg de carga!

O Low Rider 195 foi escolhido por ser mais leve visualmente e estruturalmente, dado que não prevemos ter que andar a transportar carga no topo de um porta-bagagem dianteiro, serão apenas os alforges de lado, em baixo, e o Low Rider 195 permite levar até 10 Kg de cada lado.

Entretanto, isto deve estar a chegar brevemente (estamos em pulgas!). Agora temos que começar rapidamente a pensar em tudo o resto, para dar tempo de vir até à data de partida, planeada para algures entre 16 e 19 de Agosto!

Algumas coisas já temos, mas há-que analisar se servem o propósito (é diferente acampar com carro de apoio e com bicicleta de apoio :-P, e é diferente pedalar 5 Km seguidos ou acumulados por dia, ou 50 Km, o que afecta a escolha do selim e da indumentária). Qual a melhor rota para nós? Onde e como dormir (tenda, saco-cama, colchão, hammock,…?). O que levar para comer e cozinhar e como? Que ferramentas e peças suplentes devemos levar? Que tipo e número de artigos de vestuário e calçado escolher? Que tipo e número de sacos?

to be continued…

Rumo ao Sul

Tudo começa por escolher o destino e a rota da viagem.

No nosso caso, dado que toda a minha família do lado materno é do Algarve (o que significa matar saudades, e também cama e mesa garantidas), e que um novo membro da família é esperado vir ao mundo dentro de 2 ou 3 semanas, rumar a Sul foi a decisão óbvia. Além de que a paisagem, o ar do mar, etc, são o pano de fundo ideal para uma viagem no pico do Verão.

A ideia é, pela primeira vez em não sei quantos anos, conseguir tirar 2 semaninhas de férias efectivas, e usar a primeira para percorrer a costa de Lisboa ao Algarve e depois de Sagres ou Vila do Bispo até Messines (talvez usando a Ecovia do Algarve, que faz, supostamente, parte também da Rede 1 da Eurovelo), nas calmas, pedalando, passeando, e pernoitando pelo caminho. Uma viagem que já fizémos, de carro, há 11 anos atrás!

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A segunda semana seria para ir para a praia, sendo que a ideia (muito optimista, reconheço), seria pedalar todos os dias para a praia e voltar (~60 Km ao todo). Tudo dependerá de quão quentes estejam os dias nessa altura, de como achemos as estradas (e trânsito) para percorrer de bicicleta, da nossa própria força de vontade, e das condições para prender as bicicletas em segurança enquanto estivermos no areal. 😉 Também há uma forte possibilidade de passarmos os dias em casa de papo para o ar a pôr a leitura e o sono em dia, só a repôr as energias depois da empreitada da primeira semana, ou irmos para a praia de carro, à boleia da família. 😛 Mas como a bicicleta não é uma religião, tudo bem!

Assim, ainda antes de estudarmos isto mais a sério e prepararmo-nos melhor, a matemática inicial é esta:

  • 300 Km Lisboa-Messines
  • 60 Km / dia
  • 5 dias
  • depois 5 x 60 Km = 300 Km no commuting para a praia ou para onde mais nos apetecer!

Será que conseguiremos manter-nos fiéis ao plano?… 😛

Viagens a Pedal

Este blog / sítio surge para arrumarmos as nossas coisas sob o tema “viagens de bicicleta” e “cicloturismo”. A bicicleta faz parte do nosso quotidiano porque a usamos como meio de transporte principal. Fazemo-lo por razões práticas e também político-filosóficas, mas principalmente e antes de tudo, por prazer – é um luxo podermos integrar no nosso dia-a-dia, subtilmente escondida na função “transporte”, uma actividade que nos dá gozo físico e mental. Por isso quando pensamos em férias, a bicicleta é das poucas coisas que não equacionamos desligar.

Depois de ajudarmos muita gente a equipar-se para pequenas e grandes viagens de bicicleta, ajudando a escolher, encomendando e montando, bicicletas, componentes e acessórios, decidimos que também temos direito. 🙂

Antes já fizémos algumas pequenas experiências de ir para fora de bicicleta, dormindo pelo menos uma noite fora*, Lisboa – Aveiro com o comboio a fazer a maior parte do caminho.

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E parte da Rota 6 da EuroVelo, a partir de Viena, numa excursão organizada.

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* se não incluir uma noite fora não consideramos, para este efeito agora, uma viagem, mas mais um dia de passeio, e desses houve muitos mais, claro

Antes do nosso regresso à bicicleta, fizémos algumas viagens por Portugal, à descoberta, mas de carro, estilo road trip. Isto já foi há 10 anos ou coisa que o valha, ainda estávamos na faculdade. Queremos voltar a viajar mais, mas agora não concebemos fazê-lo de um modo fisicamente tão passivo como o carro, tem que ser de bicicleta (e sempre que necessário ou vantajoso, conjugando com os transportes públicos).

Lançar este sítio e, principalmente, arranjar umas bicicletas mais vocacionadas para a função**, é também uma forma de nos auto-pressionarmos para nos fazermos à estrada mais frequentemente, afinal, temos que justificar o investimento! 😉 E, claro, um pretexto também para fazermos mais daquilo que nos trouxe aqui e que sempre nos deu tanto gozo: estudar e partilhar cenas a pedal!

** as nossas bicicletas do dia-a-dia (duas pedelec, uma “normal” e outra uma longtail) são ideais para isso: o dia-a-dia, e embora quem não tenha cão cace com gato (já as usámos para alguns passeios mais extensos, e em intermodalidade com o comboio, por exemplo), nunca é a mesma coisa – não há ferramentas ideais para toda e qualquer aplicação