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O Paradoxo das Férias

Wanderlust é uma expressão derivada do alemão: wandern’ ‘’a vagar’’, e Lust, ‘’desejo’’. É comumente definido como um forte desejo de viajar, ou de ter um forte desejo de explorar o mundo.

Não é somente um simples desejo, é uma sensação que toma todo o corpo e a mente, e em uma seqüência de fatores, incluem-se uma sensação de desconforto nas pernas, nos músculos, e aquele desejo incontrolável de ir, de seguir um rumo qualquer em direção ao desconhecido ou a algum lugar que se vá encontrar algo novo, que é a razão daquele desejo de ir.

In Wikipedia

Buscar sítios desconhecidos e situações novas causa excitação e medo, e estimula a aprendizagem. Ao buscar o novo e o desconhecido, estamos a carvar novos caminhos neuronais no nosso cérebro.

A exposição a coisas e situações novas aumenta a plasticidade do nosso cérebro, optimizando-o para a aprendizagem, e fá-lo libertar dopamina, que nos motiva a ir explorar em busca de uma recompensa. Ou seja, viajar faz-nos querer continuar a viajar. É adictivo. Logo, wanderlust!

Os níveis de serotonina aumentam com a exposição à luz solar e exercício físico, logo, viajar de bicicleta faz-nos sentir mais felizes.

Experiências novas, divertidas e excitantes provocam a libertação de dopamina e norepinefrina, criando o mesmo cenário bioquímico da paixão. Ou seja, são boas para manter casais juntos e apaixonados. Um interessante efeito colateral para quem viaja com a sua cara metade.

E, finalmente, a exposição a coisas e situações novas provoca uma percepção deformada do tempo. Durante a viagem ele corre, mas depois da viagem aquele tempo parece expandido.

The routine is the enemy of time. It makes it fly by.

The Thousand Year Journey: Oregon To Patagonia from Kenny Laubbacher on Vimeo.

Este pequeno vídeo merecia ser legendado para português, pois expressa bem a forma como a busca activa por algo novo altera o nosso funcionamento cerebral, e como está no nosso controlo fazer esse ‘hack‘ a nós próprios.

A sensação de nos sentirmos crianças de novo tem a ver com isto, para uma criança tudo é novo, ela não tem que buscar novidade e aventura, todos os dias se aprende algo novo. Para um adulto não é assim, been there, done that, tudo é familiar, padronizado, rotineiro, e para aprendermos algo novo e para sentirmos aquela sensação de espanto com o mundo, temos que trabalhar para isso, temos que sair da zona de conforto e buscar activamente o desconhecido.

O Jedidiah Jenkins (entrevista pré-viagem aqui), do vídeo acima, fala bastante da percepção do tempo, ou seja, da sua tentativa de, através da busca por coisas novas e excitantes, conseguir fazer com que o tempo dure mais tempo, e assim, quando chegar a velho, não ter aquela sensação de “o tempo passou a correr“.

Ele está a tirar partido da forma como nós avaliamos o tempo, que pode produzir experiências contraditórias de percepção do mesmo. O Paradoxo das Férias é o fenómeno de sentir que as férias passam a correr quando estamos nelas (estimativa prospectiva do tempo), mas depois que estas terminam e nós voltamos à rotina do dia-a-dia, lembramo-nos daquelas mesmas férias (estimativa retrospectiva do tempo, pela memória) como tendo sido muito mais longas do que efectivamente que foram.

Quando estamos a fazer algo novo e interessante e agradável – como quando estamos de férias – o tempo parece passar mais rapidamente do que quando estamos aborrecidos ou ansiosos. Mas quando olhamos para trás para recordar essa altura, a nossa avaliação do tempo baseia-se em quantas novas memórias individuais criámos durante aquele período. Ou seja, o Jedidiah terá sentido que o tempo passava a correr durante a sua viagem, mas mais tarde, quando se recordar dela, vai sentir que ela durou muito mais tempo do que os 17 meses que efectivamente levou.

Resumindo, viajar de bicicleta é bom para o cérebro, para o corpo, para o amor, para a memória, para a aprendizagem, e para a velhice. We. Need. To. Just. Go.