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Cicloescapadinha de Ano Novo: dar logo o tom certo a 2019

Nos dias anteriores sentia-me ansiosa, um sentimento de uneasiness, ligado à perspectiva do desconforto (íamos apanhar muito frio, concerteza) e da incerteza (receávamos ter problemas a embarcar no Intercidades em Vendas Novas com a longtail – não conseguimos ir buscar a LHT a tempo), e à eterna sensação de culpa (passear?, devíamos é voltar já ao trabalho!, work, work, work or you’ll go broke and die!).

But we pushed through. Fomos à mesma. E, como sempre, ainda bem que o fizémos. Depois da fricção emocional inicial, as coisas encaixam-se, e desfrutamos da viagem, mesmo do frio e das eventuais adversidades. Mas nem as houve, realmente (além do frio). A viagem correu lindamente, sem incidentes, sem dramas, sem percalços.

Tínhamos 3 dias. Recorremos novamente ao Roteiro da Rede Nacional de Cicloturismo do Paulo, e optámos por fazer as secções 2.11, 2.12 e 2.13, do Entroncamento a Alpiarça, a Coruche e depois a Vendas Novas, conseguindo assim recorrer ao comboio para as ligações a Lisboa. Recomendo a toda a gente este roteiro, torna mais simples simplesmente ir! Não requer tanto tempo de pesquisa e preparação de rotas. E a CP também tem ajudado muito, ao melhorar progressivamente as condições para transporte de bicicletas nos seus comboios. Infelizmente, a rede ferroviária é ainda bastante limitada e cobre uma parte pequena do território nacional.

Na Golegã encontrámos umas infraestruturas bem intencionadas, se bem que algo confusas e não ortodoxas em termos de Código da Estrada, mas apreciamos a intenção de providenciar a bidireccionalidade desta rua para ciclistas e cavaleiros! 🙂

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Esta secção foi muito fácil, completamente plana. E não sei se era por ser feriado e dia de Ano Novo, não apanhámos trânsito nenhum. Os 41 Km desta secção fizeram-se bem e rapidamente (de lembrar que saímos do Entroncamento já quase às 12h).

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Quase a chegarmos a Alpiarça, passámos na praia fluvial do Patacão (não há placas a sinalizá-la!), junto a uma antiga vila piscatória (1950 até aos anos 80), de casas de madeira em estacas, para resistirem às cheias de Inverno, entretanto abandonada e degradada. Bem, esta praia é um sítio lindo. Não se ouvia nada. O sol brilhava e estava “quase” calor. Abancámos para almoçar, e depois ficámos ali a apanhar sol um bocado e a desfrutar do silêncio e da beleza do local.

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Entretanto seguimos rumo a Alpiarça, atravessámos a vila e fomos pernoitar ao parque de campismo, onde já tínhamos estado em Junho de 2016, noutra cicloescapadinha com amigos. Chegados lá com a luz da golden hour é mais fácil tudo parecer bonito, mas é efectivamente um sítio lindo. E permitem cães, o que para nós, com a Mutthilda, era fundamental.

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Entrámos mas não encontrámos ninguém, o parque parecia estar vazio, e não havia ninguém na recepção. Demos uma volta pelo parque, e entretanto notámos uns bungallows na encosta, e estava lá um senhor.

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Metemos conversa em inglês, ele não falava português. Disse-nos que os donos viviam lá e deveriam andar por ali. Mais tarde soubémos que era um francês que vivia ali permanentemente, embora de vez em quando desse uma volta por aí, na sua autocaravana.

Sentámo-nos nuns bancos tipo miradouro e apreciámos a paisagem e a luz do fim de dia, antes de tratarmos de montar campo.

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

A chatice de acampar nesta altura com este frio é que fica de noite antes das 18h, e nestes dias ficou mesmo muito frio, então uma pessoa quer é meter-se dentro da tenda e fugir ao frio, mas para isso janta logo e vai dormir, mas é super cedo! 😛 Tipo, vamos dormir às 20h e acordar às 5h da manhã? 🙂

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Usámos emprestada uma mesa e um toldo de uma roulotte ao lado (o parque estava vazio) e foi ali que preparámos o jantar e comemos (em pé, não havia bancos e não estava tempo para usarmos a mantinha do costume e piquenicar no chão). Estávamos praticamente às escuras porque eles não acenderam os candeeiros do parque (para acender um ou dois tinham que acender todos), mas para isso é que levámos os frontais, claro.

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Inicialmente até tínhamos pensado bivacar (ahahah) mas com melhor preparação para o frio. Felizmente mudámos de ideias e levámos a tenda e, pela primeira vez, levámos também duas botijas de água quente. 😀 Aventura e um pouco de desconforto, sim, claro, mas também não temos que ser estúpidos. 😛

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019
Fez mesmo muito frio durante a noite e de manhã. As botijas foram uma óptima ideia! A dada altura já de madrugada, ou manhã cedo, o Bruno trouxe a Mutthilda para o meio de nós (estava na caixinha, debaixo da asa da tenda, enrolada em capas e cobertores, mas mesmo assim não estava quente) – foi bom para ela e a nós também deu jeito, aqueceu-nos!

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Como disse, mesmo muito frio, tínhamos gelo na tenda e nas bicicletas!

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Esticámos o tempo na tenda de manhã, mas o nevoeiro não parecia ir levantar tão cedo. Levantámo-nos e tratámos de nos preparar para sair, depois de tomado o pequeno-almoço. As mãos doíam de tão frias. Procurámos algum refúgio no balneário, frio à mesma mas ao menos sem o nevoeiro a piorar tudo! Deu jeito ter o parque vazio e sermos os únicos hóspedes, tínhamos tudo só para nós.

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Entretanto, fui andando primeiro rumo à saída para fazer o pagamento na Recepção. Cold as fuck!, já referi? E notei a bicicleta com um comportamento estranho, que inicialmente pensei poder ser do piso, fofinho, coberto de caruma, etc. Rapidamente me apercebi que afinal tinha um furo na roda da frente. Bolas. É tão raro ter furos, e com este frio não vai ser nada fixe reparar. Voltei para trás para o balneário, onde o Bruno ainda estava. É sempre bom ter o Bicycle Repair Man como sidekick. 🙂

Já bastante atrasados, seguimos finalmente, pelo nevoeiro adentro, com o dono do parque e o tal residente a olharem para nós como se nós fôssemos malucos. E somos um bocadinho, sim. 🙂

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Mas depois, eventualmente, o céu abriu e o sol brilhou e ficou mais quentinho!

Em Fazendas de Almeirim procurámos um cafézinho (o Bruno tem uma certa adicção com café). Lá encontrámos um. A senhora era simpática, mas havia dois tipos a fumar lá dentro ao balcão (wtf?!) e eu queria sair dali o mais rapidamente possível. Viémos para a esplanada. Entretanto, já quase de partida, notamos as pessoas à janela a sorrir, viram o cão na bicicleta e ficaram enternecidas. 😀 A senhora vem lá de dentro com um pedaço de bife e dá-o à Mutthilda! Há cães com sorte. 🙂

Pedalámos mais um bocado e abancámos junto à Igreja de S. José da Lamarosa para almoçar. A praça estava em obras. Uma miúda, a Mariana, viu-nos a brincar com a Mutthilda e aproximou-se. Ficou lá o tempo todo a brincar com ela e a conversar connosco. Diz que vai para a escola de bicicleta, mas que é a única. Dissémos-lhe para continuar. 😉 Havia uma casa de banho num contentor e deu jeito, também para levar as marmitas lavadas. Lá bebemos mais um cafézito num café ao lado, para alimentar a economia local, e seguimos!

O nosso troço favorito foi a seguir a esta localidade, estrada em terra batida mas confortável, e paisagem linda.

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Ao longo da viagem ocorreu-nos que falta um produto no mercado, uma engenhoca qualquer para prender / manter – em segurança, sem risco de caírem para as rodas ou voarem – coisas a secar no guiador. 😉

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019 Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019
Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019 Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Uma ideia para um próximo CycleHack, eventualmente!

Entretanto, quase a chegarmos a Coruche, encontramos isto:

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Foi simpático. Não é que houvesse trânsito relevante naquela estrada, mas assim fomos mais descontraídos.

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

A ciclovia tem 8 Km e desemboca mesmo em Coruche. O nosso objectivo inicial era ir pernoitar, em modo wild camping, no Açude do Monte da Barca. Contudo, chegámos a Coruche já pouco antes do pôr-do-sol. Não conhecíamos o caminho para o Açude e não sabíamos o que iríamos encontrar, não tínhamos certeza de ter fuel suficiente, e sabíamos que fazer os quase 10 Km até lá já de noite e com um frio do caraças, e mesmo chegando lá ter que novamente fazer o jantar, etc, tudo às escuras e com temperaturas próximos de zero,… Resolvemos ajustar o nosso plano e procurámos um quarto para alugar para aquela noite. Afinal, a primeira noite, num parque de campismo escuro e deserto, já tinha tido uma vibe de microaventura / wildcamping. 😛

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

E assim fomos parar a um quarto da D. Mária (sim, Mária), no fim de uma subida que parecia uma parede. As casas em Coruche parecem ficar todas em encostas assim, com ruas directas, em vez de sinuosas e mais planas.

Este foi o nosso pequeno luxo desta cicloescapadinha. No dia seguinte, novamente uma manhã de nevoeiro não nos permitiu apreciar a vista lá para baixo para o rio Sorraia. O frio mantinha-se, mas lá seguimos nós!

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Não estavam as melhores condições para apreciar a frente ribeirinha e a vista, mas é capaz de ser um sítio bonito num dia de sol. Seguimos para Sul, rumo ao Açude do Monte da Barca, passámos as 7 pontes metálicas sobre o Sorraia (algum trânsito numa zona de difícil ultrapassagem), mais um bocadinho numa estrada mais movimentada e cortamos para uma estrada tranquila.

Entretanto, faltava encontrar um café, claro. 😛 Parámos no primeiro que encontrámos, alimentar a economia local, e repôr as doses de cafeína!

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

O caminho para o Açude parecia ter levado com um furacão, eram só árvores cortadas. Trilhos remexidos por máquinas e uma ou outra zona de lama, mas lá chegámos ao Açude!

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Um sítio lindo! Ficámos com vontade de voltar ali um dia, e a Coruche no geral.

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Depois de umas curtas voltas exploratórias, metemo-nos de novo a caminho. E apanhámos uma estrada boa em terra batida, na zona de protecção do Açude.

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Nestes 3 dias o cão pôde tirar a barriga da miséria de correr. 🙂

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Almoçámos num sítio com meia dúzia de casas, antes de chegarmos a Cortiçadas do Lavre. Pusémos a manta na relva e sacámos do almoço. Depois, cafézinho num minimercado ao lado!

O último troço, rumo a Vendas Novas, foi sempre a abrir, com algumas subidas, e uns carros de vez em quando. Estávamos com pressa, a ver se tentávamos apanhar o comboio anterior àquele para o qual já tínhamos bilhetes (e que era o último do dia). A ideia era, se nos fosse recusado o embarque podíamos ter tempo para desmontar ligeiramente a bicicleta do Bruno paracaber no seguinte, ou então pedalar mais 40 Km até Pinhal Novo e apanhar um comboio diferente, compatível com a Big Dummy.

Chegámos moídos mas com tempo suficiente para lanchar no parque e tudo.

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Pelo caminho até ao parque passámos por uma avenida com uma ciclovia pintada ora no passeio ora na berma da estrada.

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019
Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019
Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Boas intenções, mas má ideia, O Lugar dos Ciclistas é “no Meio da Estrada”:

Depois da pausa no parque seguimos para a estação. Estava deserta. Não havia bilheteiras, nem máquinas automáticas nem indicação de em que plataforma paravam que comboios. *sigh*

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Fomos ao café ao lado e disseram-nos que para Lisboa seria na linha 1, do lado da entrada da estação (a linha 1 dá para duas plataformas). Fica a dica!

Esperámos. Apareceram mais pessoas. E o comboio lá chegou. O revisor não disse nada, apenas “para sermos mais rápidos”. Fomos tão rápidos quanto possível. E a bicicleta coube! Deixámos o comboio arrancar e, com calma, passámos a longtail do “hall” para o interior da carruagem, manobrando-a ao alto. Mission accomplished! 😀

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Cicloescapadinhado Ano Novo | Janeiro 2019

Agora é pensar na próxima microaventura!

Wild Challenge Experience Plus

No ano passado tropecei online no Wild Challenge. Fiquei logo a pensar “isto deve ser fixe“.

Mas correr não é a minha cena, nunca foi, e não me imaginava a ser capaz de ultrapassar aqueles obstáculos todos, a minha força de braços não é exactamente brilhante. Mas pensei “quem sabe um dia“.

Quando anunciaram uma prova para Maio de 2018, em Coimbra, com um novo “escalão”, o Experience, para quem quisesse “molhar os pés” no conceito, pensei “‘bora lá”. O Bruno alinhou também, embora ainda menos convencido que eu. Tínhamos 5 meses para nos prepararmos fisicamente para a coisa. Vamos apertar com os workouts em casa, e se calhar até começamos a fazer umas corridinhas de vez em quando. Ahahahah, o tempo voou e não mudámos nada nas nossas rotinas. Mas as intenções eram fortes! 😀 Mas decidimos ir à mesma. Não queríamos saber, se fôssemos os últimos, os tipos mais podres, que fosse. 🙂 Íamos experimentar.

Os nossos objectivos eram claros: divertirmo-nos, experimentar algo que nos parecia fixe e ver como nos dávamos, vencer o medo do fracasso e do desconforto, tendo como princípio fundamental evitar lesões, um luxo a que não nos podemos dar.

wild challenge

Para fazer render a viagem a Coimbra, decidimos fazer daquilo uma ciclo-escapadinha e uma microaventura. Então, seguimos para Coimbra no sábado ao almoço, com a mui estimada boleia da CP – sabiam que os Intercidades agora têm as zonas de bagagem e de bicicletas reformuladas? Embora entrar nas carruagens não seja super fácil, pelo desnível e pela largura das portas, a zona de bagagem está mais ampla, e agora é fácil ter as bicicletas e os alforges e afins todos no mesmo sítio e mesmo atrás de nós, o que dá outro nível de segurança e conforto. Parabéns e um obrigada à CP!

Wild Challenge + Buracas do Casmilo

Dá jeito para ir fazendo festas ao cão!

Wild Challenge + Buracas do Casmilo

Chegados a Coimbra pedalámos até à praia fluvial de Palheiros e Zorro, em Torres do Mondego. Temos sempre uns stresses / atritos com a cena das rotas, mas lá atinámos com um plano e seguimos. Como é nosso apanágio, metemo-nos por uns atalhos que pareciam muito má ideia, como trilhos com lama, bastante inclinados, e aparentemente pouco usados, mas que pareciam ser os mais directos, quer pelo MAPS.ME quer pelo feedback de uma senhora da zona que interpelámos para confirmar.

Wild Challenge + Buracas do Casmilo

“Se esta merda não vai dar a lado nenhum vamos ter que subir de volta por aqui! Tens MESMO a certeza?”

Mas depois revelaram-se boas apostas, pois levaram-nos para caminhos na natureza, sempre mais bonitos e agradáveis do que circular nos ambientes urbanos típicos de Portugal (asfalto, carros e mais carros, betão e pouco verde, pouca natureza).

Wild Challenge + Buracas do Casmilo

Wild Challenge + Buracas do Casmilo

A paisagem era bonita, ao aproximarmo-nos da praia, e começámos a ver as estruturas da corrida ao longo da margem. Estávamos quase! Agora vem a preocupação de “onde iremos pernoitar?”. “Será que há um sítio fixe ali?” “Será que ninguém nos vai chatear por montarmos a tenda por aqui?”

Wild Challenge + Buracas do Casmilo

Atravessámos a ponte provisória, mas tivémos o discernimento de voltar a pôr a Mutthilda no cesto, pois se ela caísse ao rio ia concerteza por ali afora com a corrente que parecia forte!

Wild Challenge + Buracas do Casmilo

Chegados ao local, e antes de abancar, fomos dar uma volta e espreitar as imediações. Metemos conversa com outros campistas, e montámos a tenda ao pé do bar e do estaminé do Wild Challenge, pernoitando ali.

Wild Challenge + Buracas do Casmilo

Wild Challenge + Buracas do Casmilo

No dia seguinte, arrumámos tudo cedo. E fomos vendo os outros grupos a partir e a fazer os primeiros obstáculos.

Wild Challenge + Buracas do Casmilo

Wild Challenge + Buracas do Casmilo

E fomo-nos preparando mentalmente para o esforço de algo a que não estamos habituados a fazer (correr, antes de mais, mas todos os outros obstáculos), o desconforto de andar vestido e calçado dentro do rio (até foi pacífico, meus ricos duches diários de água fria, grande condicionamento!), e o natural medo de falhar, de nos magoarmos, e até do ridículo (mas meus ricos 30’s, tudo isto é hoje em dia tão mais pacífico).

Antes da nossa hora de partida arrumámos as bicicletas e a Mutthilda no cesto, e deixámos tudo ali, torcendo para que ninguém nos roubasse nada, nem levasse o cão. 😉

Wild Challenge + Buracas do Casmilo

Fizémos a corrida. Sobrevivemos. Gostámos. Fizémos (ou pelo menos tentámos) quase todos os obstáculos. Divertimo-nos.

Wild Challenge Experience

A única foto de prova!

Voltámos e estava tudo lá, bicicletas, equipamento, cão. Ufa. Depois do almoço e banho, tudo pronto para zarpar. Mais ou menos.

Wild Challenge + Buracas do Casmilo

“São 16h. Ainda queres ir pedalar agora 40 Km sabe-se lá por que estradas?”

Metemo-nos à estrada lá para as 16h e picos, para a parte mais complicada do dia (dado o esforço da corrida e o tempo que sobrava): pedalar 40 Km, com muita subida, descobrimos depois, até às Buracas do Casmilo, onde queríamos pernoitar.

Começou logo para sair da praia, mesmo a doer. 😛

Wild Challenge + Buracas do Casmilo

Mas as vistas iam compensando.

Wild Challenge + Buracas do Casmilo Wild Challenge + Buracas do Casmilo

Já sabemos que as subidas dão-nos as vistas, e as descidas. 🙂

Wild Challenge + Buracas do Casmilo

Encontrar um café ou uma mercearia é que foi uma missão difícil. Ao procurar, passámos por um clube desportivo típico, onde desporto há pouco. Este polidesportivo usado como parque automóvel é uma boa metáfora de Portugal.

Wild Challenge + Buracas do Casmilo

Quase a chegar a Condeixa-a-Nova, vimos no mapa e faltava meia-hora para a nossa última esperança de encontrar um sítio aberto ao domingo onde comprar comida.

Wild Challenge + Buracas do Casmilo

Corremos e chegámos a tempo de jantar pizza num Intermarché. Metemo-nos de volta à estrada com estômagos reconfortados, a temperatura estava fixe e, goddammit, nós haveríamos de dormir nas Buracas, mesmo que lá chegássemos às tantas.

E chegámos, quase à à meia-noite, como eu tinha previsto. 🙂 Um senhor que meteu conversa connosco à noite, aconselhou-nos a pernoitar ainda em Casmilo, ao pé do parque de merendas, pois as Buracas eram um local ermo, a 2 Km da povoação de Casmilo. Quando lá chegámos ainda considerámos essa ideia, mas não era por 2 Km. Pernoitar ali não tinha a mesma vibe que fazê-lo no vale mesmo. Seria a diferença entre acordar numa barraca no fim da rua e acordar numa tenda no meio da natureza. 😉

Avançámos pela estrada de terra batida, a descer. Chegámos lá e estava muito escuro e super silencioso. Não tínhamos rede de telemóvel (a cena do ermo…). Andámos com os frontais e às apalpadelas à procura de um local onde montar a tenda. Tivémos que “dobrar” as ervas numa zona, deram uma cama fofinha. Finalmente deitámo-nos para dormir, exaustos mas satisfeitos. E, depois de debelados alguns pensamentos negros tipo “e agora se um de nós se sente mal e precisamos de ajuda, como fazemos, sem telemóvel e a 2 Km da povoação mais próxima (e mesmo assim, minúscula)?…” Dormimos, e foi mais um dia em que celebrámos debelar catástrofes. 🙂

De manhã ouvimos um ou dois tractores a passar por nós, mas ninguém parou nem nada. O sol apareceu e a bicharada começou a dar sinal de vida, e o silêncio da noite deu lugar aos chilreares que esperávamos. Num domingo podíamos ter ali companhia, mas a uma segunda-feira, tínhamos as Buracas só para nós.

Wild Challenge + Buracas do Casmilo Wild Challenge + Buracas do Casmilo Wild Challenge + Buracas do Casmilo Wild Challenge + Buracas do Casmilo

Fomos dar uma volta e vê-las.

Wild Challenge + Buracas do Casmilo

Oiçam só:

Wild Challenge + Buracas do Casmilo

Queríamos tomar o pequeno almoço numa, e gozar a vista, a experiência, o momento.

Wild Challenge + Buracas do Casmilo

E ainda dizem mal das segundas-feiras. You’re just doing them wrong. 🙂

Wild Challenge + Buracas do Casmilo

Depois arrumámos o estaminé todo e pusémo-nos a caminho de Pombal, onde apanharíamos o comboio para Lisboa.

Wild Challenge + Buracas do Casmilo

Wild Challenge + Buracas do Casmilo

Bem, toda a parte de descer do Casmilo até chegarmos ao IC2 foi espectacular. Bonitas paisagens, pelo campo, sem carros, e piso praticamente todo asfaltado. E descidas gloriosas, claro. Adoro descidas gloriosas em bicicleta. É como voar mas sem perder contacto com a terra. 😀

Wild Challenge + Buracas do Casmilo

Pronto, a segurar a máquina fotográfica não consigo ir tão gloriosamente, mas dá para terem uma ideia.

Wild Challenge + Buracas do Casmilo Wild Challenge + Buracas do Casmilo

No IC2 apanhámos uma ciclovia a la Dinamarca.

Wild Challenge + Buracas do Casmilo

Ainda bem, porque pedalar ali teria sido uma porcaria dada a configuração da estrada e o nível e tipo de tráfego (muitos camiões).

Wild Challenge + Buracas do Casmilo

Em Pombal almoçámos no jardim. A estação de Pombal não é má, tem cafetaria e WC, mas principalmente, tem um jardim público logo ao lado, com um WC público incrível, limpo, com todos os consumíveis, até um duche tinha!

Wild Challenge + Buracas do Casmilo Wild Challenge + Buracas do Casmilo

Depois tivémos é que secar 1h à espera do comboio, que sofreu um atraso não sei porquê. Mas pacífico, todos os problemas da vida fossem esses! 😉

Os dois ou 3 dias antes de partirmos são sempre emocionalmente desconfortáveis. “Se calhar não devíamos estar a fazer isto agora, não devia gastar dinheiro agora, devia ficar a trabalhar, vamos meter-nos numa prova – quem pensamos que somos?, ainda nos lesionamos, e se não conseguimos fazer os 40 Km naquele dia, onde dormimos?”, and on, and on, and on. Mas felizmente, insistimos e vamos, e ficamos sempre felizes por isso. Lidar com as dúvidas, a self-doubt, as inseguranças, os receios, o medo de sair da zona de conforto, o risco!, é fundamental para crescermos, e para vivermos vidas cheias, plenas, satisfeitas. Foram pouco mais de 48h, mas mais uma vez o paradoxo das férias deixou-nos com a sensação de que estivémos fora uma semana, a fazer o que mais gostamos: viajar de bicicleta. 🙂

Todas as fotos aqui.

Fim-de-semana livre? ‘Bora passear

Estávamos perto do final de Agosto. Fazia calor, queríamos praia mas também queríamos sair e ir a algum sítio novo. Só tínhamos dois dias. Resolvemos repetir o destino de uma ciclo-escapadinha feita um ano antes, à praia fluvial do Agroal, mas com uns twists.

Em 2016 tínhamos apanhado o comboio Regional até Seiça-Ourém, e pedalado até ao Agroal, fazendo o caminho inverso para regressarmos. Apanhámos algumas subidas duras, principalmente dado o calor que se fazia sentir.

Este era um destino que andávamos a ponderar levar os nossos alunos e ex-alunos da Escola de Bicicleta da Cenas a Pedal, no âmbito do Recreio, mas para isso teríamos que desenhar uma rota mais adequada. Então, este ano resolvemos explorar novas opções. O objectivo original era fazer parte da Rota 2.09 Pombal – Ourém, do Road Book da Rede Nacional de Cicloturismo, do Paulo Guerra Santos, no primeiro dia. Faríamos um desvio em Albergaria dos Doze para passarmos pelo Casal dos Bernardos e almoçarmos com familiares, seguindo depois para o Agroal. Ali pernoitaríamos, em modo bivaque, e passaríamos a manhã do dia seguinte, antes de nos pormos a caminho, fazendo parte da Rota 2.10 Ourém – Entroncamento, a partir de Fungalvaz ou Paialvo.

Fomos muito optimistas. 🙂 Apanhámos temperaturas de mais de 40 ºC e isso levou-nos a alterar o plano original. Assim, no segundo dia ficámos mais tempo na praia, para não apanhar tanto calor e curtir a água gelada até à última, e depois fomos apanhar o comboio a Caxarias, por um novo caminho escolhido com a ajuda de malta da zona, para evitar grandes declives.

Foi fixe, 60 Km em dois dias, passando por sítios familiares mas ainda não percorridos em bicicleta.

A ida: Lisboa – Pombal em Intercidades

Desta vez fomos de Intercidades. Não conseguimos comprar bilhetes com bicicleta pela net, mas o comboio parecia vazio e arriscámos comprar bilhetes normais. Chegámos lá, falámos com o revisor e tivémos sorte, havia efectivamente ganchos livres. Nem precisámos de desmontar e embalar as bicicletas. Yes!

Ciclo-escapadinha Ecovia 2.09 + detour Casais & Agroal

Ciclo-escapadinha Ecovia 2.09 + detour Casais & Agroal

Na estação de Pombal comemos e tomámos um café, o que nos atrasou um bocado, engonhámos um pouco.

Ciclo-escapadinha Ecovia 2.09 + detour Casais & Agroal

Pouco depois de sairmos da estação passamos por uma ciclovia pelo meio de um parque agradável.

Ciclo-escapadinha Ecovia 2.09 + detour Casais & Agroal

A rota do Paulo levou-nos por caminhos simpáticos, uns asfaltados, outros em terra batida, mas nada de muito complicado.

Ciclo-escapadinha Ecovia 2.09 + detour Casais & Agroal

A dada altura tirámos a grelha do cesto da Mutthilda para ele se sentar e ir mais fresca. Não lhe deu para saltar mas empoleirava-se na borda do cesto como se o quisesse fazer. Parecia que queria ser ela a conduzir, a ir à frente na bicicleta. 😛

Ciclo-escapadinha Ecovia 2.09 + detour Casais & Agroal

Pouco ou nenhum trânsito automóvel, só algumas subidas, que custaram mais pelo calor do que pelo declive.

O nosso plano era ir almoçar com a família ao Casal dos Bernardos. Contudo, estava tanto calor que houve uma altura que pensei que não iria conseguir continuar, estava quase a sentir-me ligeiramente indisposta. Depois parámos à sombra, descansámos, bebemos água e continuámos. Logo a seguir parámos para comer um gelado, e despejar um bocado de água pela cabeça e pelo tronco. Fez maravilhas. Foi muito mais fácil continuar.

Ciclo-escapadinha Ecovia 2.09 + detour Casais & Agroal

Entretanto, ao chegarmos a Albergaria dos Doze, altura em que teríamos que decidir a rota a tomar, um desvio à do Paulo, parámos à sombra de uma casa. Um senhor saiu de uma casa e veio meter conversa connosco. Vivia em Lisboa e também andava por ali de bicicleta, mas trazia-a no carro. Disse-nos que mais ali à frente havia uma fonte onde nos poderíamos refrescar. Excelente dica. Lá pedalámos uns metros para ir tomar um “duche” de arrefecimento. 😛

Ciclo-escapadinha Ecovia 2.09 + detour Casais & Agroal

A partir daí a rota era nova. Apanhámos estradas asfaltadas, mas com algumas subidas, mas praticamente sem carros (um domingo de agosto, à hora de almoço, num dia de temperaturas acima de 40 ºC).

Ciclo-escapadinha Ecovia 2.09 + detour Casais & Agroal

Ciclo-escapadinha Ecovia 2.09 + detour Casais & Agroal

Ciclo-escapadinha Ecovia 2.09 + detour Casais & Agroal

Finalmente chegámos aos Casais! Ufa.

Ciclo-escapadinha Ecovia 2.09 + detour Casais & Agroal

Depois de um almoço tardio e umas horas com a família, metemo-nos a caminho do Agroal.

Ciclo-escapadinha Ecovia 2.09 + detour Casais & Agroal

Apanhámos um belo fim de tarde, e ainda parámos para confraternizar com uns burros simpáticos.

Ciclo-escapadinha Ecovia 2.09 + detour Casais & Agroal

Era uma estrada sem trânsito automóvel e a Mutthilda pôde correr ao nosso lado, feliz.

Ciclo-escapadinha Ecovia 2.09 + detour Casais & Agroal

Como saímos mais tarde, sabíamos que o Parque Natureza do Agroal, que permite o campismo, e que usámos no ano anterior, já estaria encerrado. A nossa esperança era que houvesse outros campistas para nos abrir o portão. O plano B era pernoitarmos mesmo na praia. Tivémos uma sorte do caraças e cruzámo-nos com a única família que lá estava, quando regressavam ao parque, já de noite. Foram simpáticos e deixaram-nos entrar com eles.

No pico do Verão, éramos só duas famílias a pernoitar ali. Não compreendo muito bem como não há mais gente a aproveitar estas condições para acampar ali tão perto da praia…

Ciclo-escapadinha Ecovia 2.09 + detour Casais & Agroal

Ciclo-escapadinha Ecovia 2.09 + detour Casais & Agroal

É engraçado rever estas fotos. Se alguém me dissesse há tão só 5 anos atrás que um dia andaria a dormir ao relento dentro de um saco-cama-tenda, não acreditaria. Sempre fui um bocado “coisinha” com estas coisas. Tudo limpo e arrumado, bichos na casa deles, não na minha. Conforto como um valor importante sempre. Que bom é crescer, trocar de ideias, arranjar umas novas, reciclar outras, reinventarmo-nos. 🙂

Bom, de manhã arrumámos o estaminé e fomos cedo até à praia (há que marcar o lugar, em Agosto aquilo fica cheio de gente!).

Ciclo-escapadinha Ecovia 2.09 + detour Casais & Agroal

Abancámos e ali ficámos a curtir o dia. Mas antes ainda fizémos uma pequena caminhada pelo percurso mais curto (não havia tempo para o longo).

Ciclo-escapadinha Ecovia 2.09 + detour Casais & Agroal

Fomos algumas vezes refrescar às águas geladas da piscina da nascente, e a Mutthilda também foi brincar para a água mais a jusante.

Ciclo-escapadinha Ecovia 2.09 + detour Casais & Agroal

Ciclo-escapadinha Ecovia 2.09 + detour Casais & Agroal

Ainda nadou um pouquito de nada! Mas não o faz espontaneamente. Temos um longo caminho a percorrer ainda…

Quando o calor aliviou um pouco, zarpámos de volta a Lisboa. Desta vez tomámos um caminho diferente, e fomos apanhar o comboio a Caxarias, em vez de Seiça-Ourém como no ano anterior. Parece-nos uma melhor opção, mais suave em termos de orografia, menos trânsito (estradas mais secundárias). Fez-se bem, à parte uns troços com piso mais degradado.

A co-modalidade com o comboio funcionou lindamente, e lá fomos nós de volta a casa, com a alma cheia com tanta coisa boa metida ali em apenas dois dias. 🙂

Todas as fotos aqui. Esta é uma volta muito fixe para se fazer com amigos e família. Que bênção é viver num país em que podemos fazer isto, e usufruir desta natureza, deste campo, e destas infraestruturas. 🙂

Obrigada à CP – Comboios de Portugal pela boleia, obrigada à Protecção Civil pela vigilância em época propensa a fogos, obrigada ao Parque Natureza do Agroal e à Câmara Municipal de Ourém pelo alojamento e pelas infraestruturas no Agroal, e obrigada ao Paulo por criar o seu Roadbook.

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta (e não só)

Era para aproveitar os feriados todos e ser uma semana de férias a pedalar pelo Norte de Portugal, apanhando 2 ou 3 ecopistas e dando um salto ao Gerês. Mas os planos sofrem alterações, e acabámos por dispôr apenas de umas 48h distribuídas por 3 dias à volta de um feriado. Então resolvemos ir de Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta (e não só), e no caminho testar a rota 14.1 das Ecovias de Portugal, do Montijo ao Pinhal Novo, para a fazermos no âmbito dos passeios da Escola de Bicicleta da Cenas a Pedal.

Saímos de Lisboa a uma 4ª-feira quente depois do almoço, para apanharmos o barco das 15h30 no Cais do Sodré para o Montijo.  Não fomos os únicos, e partilhámos o espaço das bicicletas com dois outros viajantes que viajavam também todos carregados, em duas Long Haul Truck da Surly. Eram 4 Surlys no barco, não é todos os dias. 😛

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

Pés em terra, e arrancámos. Rapidamente chegamos da estação fluvial à primeira povoação. O primeiro troço, no Montijo, não é especialmente interessante. Mas teve um ou outro ponto mais bonito.

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

Pequena praia fluvial algures no Montijo

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

Tive que ir espreitar estas ruínas, claro está

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

Dava um bom sítio para pernoitar em wild camping, para quem não tem medo de fantasmas 😛

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

Praia fluvial de Gaio-Rosário, já na Moita

A partir daqui, da praia fluvial de Gaio-Rosário, gostei mais da viagem, não sei bem porquê. A paisagem e o contexto, talvez, mas se calhar a própria luz e temperatura de fim de tarde ajudaram a dar outro feeling à coisa.

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

Chegámos ao parque de campismo de Pinhal Novo já tarde, pelas 21h15.

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

E quem é que lá estava, de campo montado e prontos para dormirem? Os nossos companheiros de barco.

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

Nós é que somos uns pastelões e demorámos eternidades (5 horas!) a fazer aqueles 35 Km. Nem sei como, a minha previsão eram 3h. Ai que agora a Mutthilda tem sede. Ai que deixa-me ver estas ruínas. Olha vamos parar aqui e comer qualquer coisa. Vou só fotografar umas cenas ali. Ai a Mutthilda tem que esticar as pernas. Temos que pôr protector solar. Ah, afinal era para ali. And so on. 😛 Antes da Mutthilda fazíamos 55 Km/dia, agora fazemos 30 ou 40 Km, está visto 😛

O parque era agradável, muito bem arborizado, tinha bom aspecto e as infraestruturas eram boas e logo ali ao lado da tenda. E à noite esteve perfeito, nem demasiado calor, nem frio.

No dia seguinte acordámos cedo e rumámos à estação de comboios de Pinhal Novo, onde apanhámos um comboio urbano (mas que usa as mesmas carruagens que os Regionais da linha do Norte) para Setúbal. Por falta de preparação, saímos na última estação, Praias do Sado A, um erro. Devíamos ter ficado na estação de Setúbal, assim tivémos que pedalar mais, e por sítios sem interesse. Como augurava o estado da estação

Mas lá nos pusémos a caminho. As subidas tinham duas recompensas: lindas paisagens, e descidas a seguir. 🙂

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

“É para ali que vamos!”

Só é pena a conspurcação que algumas pessoas fazem destes locais. É isto. E a falta de resposta das autoridades que gerem estes espaços em criar condições para que as pessoas possam usufruir dos mesmos mas sejam conduzidas a comportamentos mais cívicos.

A seguir parámos num vale onde parecia estar a decorrer um evento qualquer, tal era a quantidade de gente a preparar grandes almoçaradas. Era o Parque de Merendas da Comenda. Nós aproveitámos para descansar um pouco e comer qualquer coisa, sentados na nossa manta de piquenique.

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

Depois continuámos a pedalada. Queríamos ir para a praia, e já agora queríamos espreitar a praia dos Galapinhos, eleita a melhor praia da Europa em 2017, pelos internautas. Sabíamos que seria só espreitar, porque os acessos seriam incompatíveis com bicicletas (ainda mais carregadas, em modo touring).

Não fomos os únicos a ter esta ideia num feriado. Mas fomos dos poucos que o fizeram de bicicleta.

Os outros foram de carro, o que significa que passaram mais tempo a cozer dentro do carro do que na praia, e, por estacionarem ilegalmente, causaram a obstrução da única via de acesso àquelas praias, pondo pessoas, natureza e bens em risco em caso de emergência (é pensar em acidentes, emergências médicas, incêndios, etc).

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

Para a esquerda a vista era esta.

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

Em frente o cenário era este. Carros parados por todo o lado a entupir a circulação. Nós de bicicleta a tentar passar pelo meio deles, juntamente com as pessoas pé (que vêm desses mesmos carros…).

Tudo permitido ano após ano pelas autoridades (município de Setúbal, Estradas de Portugal, GNR,…), pelo que descobrimos ao falar com um GNR, e depois na net. Em centenas de carros, multar e bloquear duas ou três dezenas é irrelevante, embora se agradeça o esforço, claro. Mas são precisas medidas de prevenção. Enfim. Não vão para lá de carro. Peguem nas bicicletas, conjuguem com os transportes públicos, façam carpooling, só não façam estas figuras.

Bom, passámos a praia da Figueirinha e continuámos pois parecia demasiado cheia de carros. Acabámos por descer até à praia do Creiro, que também não conhecíamos. A descida era íngreme e longa, e torcemos para que fosse uma praia fixe onde pudéssemos passar o dia (e a noite).

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

Ao descer vimos um sinal que indicava 22% de inclinação. Já sabíamos o que nos esperava depois para sair!

Descemos, e antes de escolhermos um sítio para montar arraiais, percorremos a praia até à outra ponta, para fazer o reconhecimento da área assim por alto.

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

Vista do outro extremo da praia do Creiro

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

“Estive aqui!”

O problema do bike touring é que não dá para deixarmos a bicicleta amarrada algures e irmos à nossa vida, pois a bagagem está lá, e fácil de aceder e levar pelos amigos do alheio. Então, temos que a levar connosco para todo o lado. Como quem anda de carro gosta de fazer, embora aí seja simplesmente por preguiça.

Abancámos atrás da malta toda no areal, para não arrastar demasiado as bicicletas pela areia, e para termos espaço sem incomodar ninguém. E usámos a tarpa para tapar parcialmente as bicicletas e criar um toldo. Mas como não temos estacas (temos que comprar umas!), ficou baixinho, e dado o calor e a distância à água, íamos cozendo. 😛 Vá lá que foi menos mau pois usámos o meu Click-Stand como estaca, e foi funcionando mais ou menos, apesar do vento. Nada como cenas multifunções. 🙂

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

Só falta comprar umas estacas para a tarpa-como-toldo-de-sol funcionar melhor.

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

Click-Stand à direita a fazer de estaca. Mutthilda cheia de calor mas ainda assim a encostar-se ao paizinho querido, não fosse ele fugir.

E montar este estaminé alien à frente de toda a gente, na esplanada e no areal? E depois pormo-nos lá debaixo desta cena com ar meio hobo, com cão e tudo? Espectacular para gente tímida. 😛 Mas crescer/envelhecer traz muitas coisas boas, inclusivé a capacidade para zero fucks given.

Depois foi ficando mais fresquinho. Ficámos no areal até os dois restaurantes fecharem e a malta toda ter-se ido embora, para podermos sair de fininho para o nosso spot para pernoitar, wild camping style.

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

Durante o dia tínhamos andado a ver ali potenciais zonas para pernoitar e dirigimo-nos para lá. Na outra ponta da praia (à esquerda de quem acede à praia pela tal descida), mesmo junto ao areal, estavam mais pessoas a acampar, várias tendas, e grandes. Pelo que não estávamos sozinhos.

Nós fomos para uma zona onde vimos uma família a piquenicar à hora de almoço (um indicador de que poderia ser uma zona segura o suficiente (leia-se, não usada como casa-de-banho nas outras horas).

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

Ficámos mais “para fora” do que inicialmente planeado porque não conseguimos enfiar as espias no chão, que deve ter entulho (!) por baixo, pelas amostras de tijolo e afins que se viam no chão. Mas sem problema. Fizémos o jantar e o pouco fuel que tínhamos ainda deu, pelo que não foi desta que comemos as salsichas por cozinhar. E ainda deu para o cappucino no final – qualidade de vida! 🙂

Estávamos com medo de passar frio à noite, não tínhamos trazido roupa mais quente nem mantinha extra. No campismo em Pinhal Novo tivémos sorte e a temperatura estava perfeita. Mas aqui ao pé do mar e com vento… Mas a noite foi super quente, principalmente depois que o vento parou. Tive dificuldade em dormir. Acordava com calor. Só melhorou já quase de manhã.

Mas ninguém disse que as microaventuras são confortáveis. Se o fossem não eram aventuras. 

Os momentos de desconforto valem a pena, dão um sabor especial a cenas destas. Como acordarmos de manhãzinha e termos uma praia deserta à frente. 🙂

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta
De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

Como compensação pela noite de alojamento gratuito, apanhámos algum lixo antigo, de gente mais distraída que não reparou nos caixotes do lixo ali ao lado.

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

Depois do pequeno-almoço da praxe (muesli com banana e leite de soja) tomado com vista sobre a praia, e disco atirado n vezes, era hora de partir.

Tínhamos uma subida do caraças para vencer só para sair dali. Só pensava nos 22% de inclinação e já tinha pensado que a melhor estratégia seria levar primeiro dois alforges a pé, descer, e levar a bicicleta mais leve a seguir. Mas não foi preciso. Com tanta expectativa de uma subida “horrível” para fazer com a tralha às costas, aquilo foi quase peanuts. 😛 E a partir dali, todas as subidas que encontrámos foram psicologicamente muito mais fáceis.

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

Chegados cá acima, pedalámos um pouquito e rapidamente chegámos à zona da praia dos Galapinhos. A vista era esta:

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

A estrada ainda estava transitável.

O Bruno ficou cá em cima com as bicicletas, e eu fui com a Mutthilda procurar o acesso à praia e descer para espreitá-la, para uma incursão futura. Aquela zona está toda “furada” de caminhos que se cruzam e vão dar a esta praia e à dos Coelhos, ali ao lado. Os acessos são assim:

Ciclo-escapadinha à Arrábida  Ciclo-escapadinha à ArrábidaCiclo-escapadinha à ArrábidaCiclo-escapadinha à Arrábida

A praia dos Galapinhos: uma parte concessionada, outra não. Aproveitei para dar aqui uns mergulhos para refrescar.

Ciclo-escapadinha à ArrábidaCiclo-escapadinha à Arrábida

Depois continuei, a ver se ia dar à praia dos Coelhos. Subi por outros caminhos sinuosos e fui dar lá acima, donde avistei a praia.

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

Ficará para outra vez. Regressei, pois tinha o Bruno já a apanhar seca à minha espera. Pusémo-nos a caminho, com planos de parar na praia da Figueirinha, para conhecer, e para passar a manhã e almoçar. Chegámos lá e escolhemos a ponta Este, de forma a podermos deixar as bicicletas ali ao pé mas sem as levar para a areia, e poder ter a Mutthilda fora da zona concessionada,e ainda assim termos rápido acesso à água. Foi perfeito. E a água estava perfeita. Like, perfeita.

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

Apesar dos nossos esforços de persuasão com bolas e o camandro, não foi desta que a Mutthilda se “atirou” ao mar e nadou. É uma mariquinhas. 😛

 

 

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta

Da série “sim, estivémos mesmo aqui”.


Depois de refrescados, D vitaminized, e almoçados, pusémo-nos a caminho da estação de comboios de Setúbal.

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta
Estava uma brasa, e havia subidas. Ainda fizémos uma paragem para espreitar o parque de campismo do Outão, mas estava fechado, ainda em obras, e aproveitámos para fazer uma sesta ali ao pé, debaixo de uns pinheiros. Este parque era o nosso plano B ao wild camping. Estávamos bem lixados se nos tivéssemos posto a caminho dele na noite anterior…

Depois da power nap, continuámos até Setúbal, e só demos com a estação (sem recorrer ao Google Maps, com as indicações de um transeunte, porque não encontrámos uma única placa com direcções, era como se a estação não existisse. Inacreditável. Mas lá fomos dar, e correu tudo bem. Até apanhámos um revisor da CP muito simpático e conversador, e sensibilizado para a questão das bicicletas conjugadas com o comboio para turismo e transporte.

Desta vez seguimos de comboio directamente para o Barreiro, onde apanhámos depois o barco. Este tem só um espaço amplo, não tem “racks”.

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta
Olá Lisboa, estamos de volta! Pareceu uma semana fora, mas foram só umas 48 horas. 🙂 Assim é o Paradoxo das Férias.

Ciclo-escapadinha à Arrábida

De Lisboa às praias da Arrábida de bicicleta (e não só) é, sem dúvida, para repetir e expandir. Mais fotos aqui.