Acredito que aventura é esticares-te a ti próprio: mentalmente, fisicamente ou culturalmente. É sobre fazer o que normalmente não fazes, puxares a sério por ti e fazê-lo até ao melhor das tuas capacidades.
Se isto é verdade então aventura está à nossa volta, a todo o momento. Aventura é acessível a pessoas normais, em sítios normais, em curtos segmentos de tempo e sem ter que gastar muito dinheiro.
Aventura é apenas um estado de alma.
É por isso que inventei a ideia de microaventuras. Expedições e desafios simples que são próximos de casa, baratos e fáceis de organizar. Ideias desenhadas para encorajar pessoas comuns para Sair Lá para Fora e Fazer Cenas por elas próprias, mesmo nestes tempos de aperto financeiro.
[…]
Podem ser pequenas mas as microaventuras podem ainda assim ser desafiantes e compensadoras. Cada uma é desenhada para inspirar outros a definir os seus próprios desafios, desafios que podem ser curtos mas que captam o espírito de aventura.
Para nós Janeiro já não deu, vamos ver se conseguimos arrancar com isto de 1 microaventura por mês em Fevereiro. 🙂
Uma que parece bastante fácil, e simples, é esta: apanhar um comboio para fora da cidade, subir um monte e passar lá a noite. Regressar na manhã seguinte.
A energia de activação disto é alta, o próprio Alastair refere isso. Pelo que conseguir vencer a inércia, os medos, os preconceitos, e ir a 1ª vez é o passo mais importante e mais difícil, a partir daí a coisa rolará melhor, e é importante é manter o ritmo!
Porque um pouco de aventura boa só faz é bem! 🙂 Vamos *escolher* alocar tempo para ela.
Registámo-nos na rede Warm Showers em Outubro de 2014 e desde essa altura já alojámos 9 pessoas, em 6 ocasiões (tivémos 2 casais e um “casal” de amigos), e rejeitámos (por indisponibilidade) outros 11 hóspedes. Antes disso já tínhamos alojado três outras pessoas em ocasiões diferentes, uma em reciprocidade (tinha ficado alojada em casa dela em Copenhaga aquando da conferência Velo-City 2011), outra por acaso, e outra por referência da segunda. A experiência tem sido variável mas bastante boa. É enriquecedor contactar com pessoas de diferentes países, em tipos diversos de viagens, e inspira-nos a fazermo-nos também nós à estrada. 🙂
Já tivémos connosco canadianos, belgas, um inglês, americanos, e um polaco (e antes, uma dinamarquesa, um austríaco e uma alemã). De viagens de 2 ou 3 semanas até viagens de 1 ou 2 anos ou mais, até um rapaz que já é efectivamente um nómada em bicicleta.
O que é a rede Warm Showers?
“Warm Showers” significa “duches quentes”. É “uma comunidade para ciclistas em viagem e anfitriões”. A comunidade Warm Showers é um intercâmbiogratuito de hospitalidade a nível mundial para viajantes em bicicleta. As pessoas que estão dispostas a receber e alojar viajantes em bicicleta inscrevem-se e disponibilizam os seus contactos, e podem ter ocasionalmente alguém a pernoitar com eles e a partilhar boas histórias e uma bebida.
42 % dos ~51.000 membros da rede estão nos EUA, 40 % estão na Europa, e a língua franca na rede é o inglês. Portugal tem 229 membros neste momento, e apenas ~32 em Lisboa (daí, provavelmente, a grande procura que nós tivémos como anfitriões, logo desde início). Desde 2012 que a rede tem tido um grande crescimento anual, duplicando o número de membros a cada ano.
O site tem uma secção de Perguntas Frequentes e já estão em português, podem saber mais aqui. Apenas em inglês, têm aqui dicas de como ser um bom hóspede, e aqui dicas de como ser um bom anfitrião.
Porquê ser anfitrião na rede Warm Showers?
Para viajar nas palavras e histórias dos hóspedes, ter contacto com outras pessoas, línguas, culturas, países, experiências, variar a rotina quotidiana, fazer amigos pelo mundo, e por reciprocidade – se um dia quisermos fazer-nos à estrada, ter feedback no nosso perfil de hóspedes que ficaram connosco e que gostaram da experiência dá-nos credibilidade, tornando mais provável encontrar, no futuro, anfitriões que nos queiram receber. E se realmente sonhamos viajar também, é uma excelente forma de ir aprendendo com as experiências dos outros!
Primeiros hóspedes oficiais Warm Showers: Dan (& Kiri, que tirou a foto), lowgearlife.com
Porquê ser hóspede na rede Warm Showers?
Porque é mais barato, mais enriquecedor e mais interessante do que ficarmos sozinhos num alojamento formal comercial (que também sabe bem de vez em quando, claro, estarmos sozinhos, à vontade, sem os constrangimentos de estarmos “de favor” na casa e na vida de alguém). Conhecemos em primeira mão as pessoas e a cultura locais, e fazemos mais amigos pelo mundo.
Como aumentar a probabilidade de sermos aceites e bem recebidos por um anfitrião?
Tudo começa no nosso perfil: deve providenciar informação sobre nós, de onde somos, o que fazemos, que tipo de viagem estamos a fazer, ter feedback de outros anfitriões anteriores e até hóspedes, e idealmente ter algum blog e/ou perfil no Facebook que mostre aos anfitriões que aquela pessoa existe, tem um passado, passou por vários sítios e contactou com várias pessoas de forma positiva, e que comprove aquilo que o perfil ou a mensagem de contacto original diz. Queremos que o nosso perfil 1) seja interessante e 2) inspire confiança ao anfitrião.
A seguir, a primeira mensagem (e seguintes) de contacto com o anfitrião, a solicitar alojamento, que deve conter informações claras, os principais detalhes importantes, e inspirar confiança e empatia. Aqui fica uma sugestão de itens a incluir:
Olá [nome do anfitrião],
Obrigado pela sua oferta WS.
Estamos a viajar até [lugar] e começámos em [local] há [n] dias/semanas/meses/anos. Podem sabaer mais sobre nós e/ou sobre a nossa viagem neste [url] e neste [url] sites.
Gostaríamos de poder pernoitar em vossa casa de [data] a [data], por [n] noites.
Somos [n] pessoas [casal ou não]. Temos [ou não] uma tenda e/ou colchão e saco-cama, e contactámos [n] outros anfitriões em Lisboa.
Precisaremos [ou não] de lavar as nossas roupas – será possível fazê-lo em vossa casa, ou podem indicar-nos uma lavandaria self-service próxima?
Gostamos de nos levantar por volta das [horas], e coordenarmonos-emos convosco para não atrapalharmos a vossa rotina matinal quotidiana, claro.
Estamos neste momento em [local] e o nosso número de telemóvel é [número].
Obrigada, e esperamos o vosso contacto!
A WS é uma rede de intercâmbio de hospitalidade, não é uma rede de sítios onde ficar à pála, por isso é importante não fazer o nosso anfitrião sentir-se simplesmente usado, é importante que haja interacção e cooperação da parte dos hóspedes. Da mesma forma, normalmente os anfitriões recebem os hóspedes durante as suas vidas quotidianas normais, pelo que é importante minimizar o nosso impacto nos seus horários e nos seus encargos. Ficar apenas 1 noite pode não dar oportunidade de passar algum tempo com o anfitrião (ao jantar, por exemplo), dependendo dos horários de ambas as partes, e o anfitrião ganha pouco mais que roupa para lavar, e casa para limpar e arrumar, com aquela experiência. Ficar mais do que 3 noites pode perturbar demais as rotinas da família anfitriã. Nunca peçam para, nem esperem, ficar mais do que 3 noites – preparem o vosso plano B mas mantenham presente que se a experiência estiver a correr bem e se os anfitriões tiverem disponibilidade, além da vontade, eles próprios vos sugerirão para ficarem mais uma noite ou duas.
É importante notar que a rede de anfitriões Warm Showers é especificamente para pessoas que se encontram naquele momento a viajar de bicicleta – não apareçam a pé ou de carro…
Alternativas e complementos à rede Warm Showers
Há outras redes mundiais de intercâmbio de hospitalidade (ver aqui), como a Couchsurfing que acredita que o mundo se torna melhor viajando e que as viagens são tornadas melhores pelas ligações, promovendo o intercâmbio cultural e o respeito mútuo, a The Hospitaly Club que acredita que fomentar este intercâmbio de pessoas aumenta a compreensão intercultural e fortalece a paz no nosso planeta. Estas são redes genéricas, não especificamente para ciclistas.
Este artigo tem umas boas dicas gerais de como ser um bom hóspede (aumentando assim o nosso “street cred” nas redes), está pensado para o Couchsurfing mas aplica-se bem a qualquer rede gratuita de intercâmbio de hospitalidade.
Vá lá, estão à espera de quê para se registarem e começarem a receber viajantes? 🙂
Este post faz parte de uma série: Lisboa-Messines-2013! As fotos estão aqui.
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Finalmente, no dia 31 de Agosto, sábado, regressámos a Lisboa. Pedalámos até à estação da vila, S. Bartolomeu de Messines, para tentar a nossa sorte com o comboio (nessa altura já não havia Regionais Algarve – Lisboa, e o Intercidades requer que as bicicletas sejam desmontadas e embaladas). Desmontar e depois remontar as bicicletas seria uma trabalheira desnecessária (enão tornaria os volumes assim tão mais compactos ou arrumáveis no comboio), por isso tentámos safar-nos com uma técnica intermédia:
retirámos todos os sacos e bagagem da bicicleta
rodámos o guiador
bloqueámos os travões com abraçadeiras plásticas
removemos os pedais
prendemos a roda dianteira ao quadro com umas Rok Straps, para não se mover
embrulhámos as bicicletas em sacos pretos opacos
Infelizmente, quando chegámos à estação não estava lá mais ninguém e não conseguimos perceber onde pararia o comboio para Lisboa. Tratámos desta logística numa plataforma, mas entretanto chegou mais gente e foram para a outra – perguntámos-lhes e afinal era do outro lado, pelo que toca a fazer piscinas a acartar as bicicletas embaladas e os vários sacos.
Entretanto chegou o comboio. Tentamos perceber onde pararão as carruagens e se haverá alguma carruagem própria para bagagem mais volumosa. O revisor está à porta e olha para nós de alto a baixo – receamos o pior. Mira-nos e volta a mirar-nos e diz-nos que devíamos ter desmontado as bicicletas… Mas no final deixa-nos entrar. Ufa. Ele sugeriu-nos a zona da bagagem mas “fugimos” e ficámos no corredor porque achámos que seria mais prático para todos. Arrumámo-las ao alto e no início estávamos a pensar ficar lá com elas, mas depois vimos que não era necessário, as pessoas passavam bem, as bicicletas não caíam.
As pessoas tinham que se desviar, para passar entre carruagens, mas dava perfeitamente.
A catrefada de sacos e bagagem ficou ao monte atrás dos primeiros bancos de passageiros.
Bonito embrulho, hein? 😛
Entretanto, chegamos a Lisboa e optamos por ficar em Sete Rios.
Junta-se novamente a tralha toda na plataforma.
E desembrulhar é mais fácil e rápido que embrulhar e num instante estamos prontos para continuar viagem, agora até casa.
Descemos as escadas rolantes em marcha-atrás.
Ah, Lisboa, so welcoming. 😛
E mais uns quilómetros a pedalar depois, chegámos bem a casa. A sensação de regresso a casa é também uma doce parte de viajar. 🙂
Este post faz parte de uma série: Lisboa-Messines-2013! As fotos estão aqui.
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Depois de na 2ª-feira não termos pedalado (ficámos em casa a descansar, e fomos visitar parte da família – de carro), e de na 3ª-feira termos dado uma voltinha ali perto de casa, na 4ª-feira decidimos ir à praia. A praia fica a mais de 30 Km.
Claro que à boa “nossa moda”, saímos de casa tardíssimo, depois de algum debate interno “vamos ou não vamos” e procrastinação, e por isso quando finalmente chegámos à praia já o sol se punha. Isso não nos impediu de dar um mergulho para assinalar a viagem, claro. Estava boa, a praia, e a água também. 🙂 Não estava quase ninguém ali, e levámos as bicicletas para a areia, prendendo-as aos sinais.
A praia dos Salgados é o meu tipo de praia, uma praia natural, e enquanto não construírem lá mais um resort, será das últimas no Algarve sem betão e asfalto e carros a fazer de transição entre a terra e o mar, em vez de dunas…
A Lagoa, e a praia natural são únicas. Resorts com relva e palmeiras, e hotéis, constroem-se em qualquer lado, e recuá-los 500 metros ou 1000 metros do mar não faz mossa e dá-lhes um caminho bonito para percorrer até à praia. Não percebo as pessoas do meu país, sinceramente. Quando só tivermos resorts, carros, betão e palmeiras por todo o lado, e já não houver nada de natural, o que fará os turistas virem para cá em vez de para os outros milhentos sítios iguais, quiçá até mais baratos?
Por favor, se lá forem, à praia dos Salgados ou à praia Grande, estacionem longe, não levem o carro para cima das dunas, e usem os passadiços em vez de caminhar sobre elas. Obrigada. 😉
Continuando, o sol pôs-se, e nós voltámos para casa, ou seja, mais 30 Km. Fizémos uma paragem na Guia, para testar e fotografar este parque de estacionamento para biclas, pouco funcional (boas intenções sem o know-how = desperdício de dinheiro):
Depois voltámos a parar a uns 10 Km de casa, para visitar os primos. 🙂 Estávamos exaustos. Mesmo. Completamente exaustos. Não percebemos porquê, afinal, 60 Km era o que fazíamos diariamente na viagem para baixo, depois descansámos um dia, pedalámos pouco (31 Km) no dia seguinte, e depois neste dia sentimo-nos inesperadamente supercansados. Mas lá conseguimos arrastar-nos até casa. ;-P
Claro que depois estivémos dois dias seguidos a descansar, não voltámos a sair de bicicleta, foram uns últimos dias de férias muito caseiros, no meio do campo, lá no monte da tia. 🙂
Num dos dias caíu uma boa carga de água, o que nos fez sentir menos mal pelo nosso apego ao sofá nesse dia. 😛
De resto, pouco mais movimento houve que fotografar uns bichos aqui e ali! 🙂
Esta ideia de ir para a praia “todos os dias” parecia gira, mas não tínhamos pedalada para tal. Seriam umas 3-4 horas a pedalar todos os dias (a costa fica a 30 km), como se o touring continuasse. Tentaremos noutra oportunidade, mas não estou convencida de que seja viável, ou interessante, fazê-lo por sistema… Embora tenha a certeza que regressaríamos todos ‘enxutos’, ahah!
Este post faz parte de uma série: Lisboa-Messines-2013! As fotos estão aqui.
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Bom, depois da empreitada dos 330 Km de pedaladas entre Tróia e Messines, com aquela última etapa puxada, tirámos o dia seguinte (dia VIII) para descansar! Mas na 3ª-feira pegámos nas biclas para dar uma voltinha ali pela zona (dado que já era tarde e ainda não tínhamos energia para a volta para a praia, o plano original), e fazer mais uma visita familiar.
Foram 31 Km (agora sem toda aquela carga!) que incluíram algumas boas subidas até Alte (Loulé), e respectivas descidas fenomenais. 😀 A vista, a paisagem foi sempre bonita, e estava um dia lindo para estar lá fora a pedalar!
Do Azinhalinho até Alte foi um percurso muito agradável, apesar das subidas, pela paisagem e pela tranquilidade (a estrada não tinha tráfego automóvel virtualmente nenhum!).
Alte é bonito, verdejante e bem cuidado, mas estava morto, comércios fechados e sem gente, quase… 🙁
É caso para dizer “então para que raio serve a relva?!”.
Enquanto o Bruno fazia umas gravações de campo para as músico-cenas dele, eu fui molhar os pés na Fonte Grande, e se fosse mais cedo tínhamos ido ao banho! 🙂
À saída encontrámos ainda um sítio decerto bike-loving, mas estava fechado e não pudémos descobrir o que havia para ali que tivesse a ver com biclas. 🙂
Depois de Alte, já cá em baixo, apanhámos um troço em estrada de terra batida e calhaus, um BTT light, suponho, antes de chegarmos ao Barrocal, desta vez ainda de dia, para podermos apreciar a envolvente! 😉
Este post faz parte de uma série: Lisboa-Messines-2013! As fotos estão aqui. —————————————————————————————-
É uma vergonha, deixei o relato a meio e só lhe consigo voltar a pegar 6 meses depois. 😛 Mas aqui vai!
DIA VII, 25 de Agosto, domingo
Sagres –> Messines
Cerca de 60 Km de pedaladas
Acordamos no parque de campismo de Sagres, espreitamos pela janela da tenda e vemos com alívio que as bicicletas, sacos e afins ainda estão no mesmo sítio. 🙂 Não deixamos a sorte ao acaso, mas isto às vezes basta ter azar.
Tomamos o pequeno almoço.
Depois arrumamos a trouxa e decidimos almoçar por ali, no restaurante do parque.
Depois de “atestados os depósitos” e partido tirado do wi-fi, fizémo-nos à estrada.
O nosso caminho do dia foi mais ou menos este:
Parte 1: Sagres-Lagos –» comboio para Tunes
Para começar, claro, não podíamos deixar de nos perder ligeiramente a tentar sair do parque e chegar à estrada principal por atalhos. 😛
Ao mesmo tempo que avisam que a estrada está em mau estado, apenas “recomendam” uma velocidade máxima de 60 Km/h (em vez dos 90 Km/h de limite que se aplicam ali)…
E a marcação da ecovia também não se livra do complexo de inferioridade ciclista, ali chegada à direita…
Cruzámo-nos apenas com 2 outros ciclistas:
“Proibir não vale a pena, vamos só recomendar”:
A dada altura deixámos a ecovia e entrámos na EN125.
E seguimos pela berma até Lagos.
De vez em quando, nas descidas e quando não vinham carros, acelerávamos pela faixa de rodagem. Mas a berma era aceitável no geral.
Estava bastante calor e de vez em quando parávamos para beber água e também para molharmos as costas um do outro, para arrefecer – sabe mesmo bem. 🙂
Entretanto chegamos a Lagos e vejo isto, uma pessoa numa cadeira de rodas a circular pela estrada, porque não há passeios nem bermas… *sigh*
A estação de comboios de Lagos era nova. Chegámos, encostámos a bicicleta a uma parede (que parecia servir mesmo para isso :-P) e fomos comprar os bilhetes para Tunes.
Enquanto lá estávamos, vi um rapaz entrar com a bicicleta [de BTT] para a casa-de-banho. Presumo que não tivesse trazido cadeado. 😛
Lá chegou o comboio (Lagos é uma estação terminal) e tratámos de içar as bicicletas para a carruagem respectiva. “Içar” é a palavra mais adequada, dado que a entrada não tem sequer escadas de acesso, como as entradas normais…
Nos comboios regionais da CP é permitido, e gratuito, transportar bicicletas, e estes até têm mesmo um compartimento para carga, com ganchos para bicicletas.
Infelizmente estes ganchos são práticos para bicicletas como as da foto, beater bikes. Nada fixa as bicicletas impedindo-as de oscilarem e baterem uma na outra. E colocar as bicicletas nos ganchos não é prático, ou mesmo viável, para bicicletas mais pesadas e/ou carregadas, como as nossas. Por isso, e mesmo que os ganchos não estivessem ocupados, arrumámos as nossas a um canto, imobilizando-as com abraçadeiras plásticas no travão da frente e com umas Rok Straps.
Partimos então logo com 4 biclas a bordo:
Numa outra estação entrou uma rapariga com uma bicicleta mais citadina, e pendurou-a num outro gancho (que não era bem para biclas, pareceu-nos).
Acabámos por passar a viagem naquele compartimento, que parecia uma prisão. 😛
Como tínhamos a tralha toda nas bicicletas e este compartimento não era visível do compartimento dos passageiros, preferimos ficar ali e pronto. E fomos espreitando pela janela a apreciar a paisagem.
A dada altura as estações passaram a ser do outro lado e tivémos que mudar um pouco as bicicletas para não obstruirmos a porta:
Não estávamos à espera desta, mas na estação de Tunes tivémos que tirar as bicicletas – carregadas – de uma altura muito maior. Já estávamos com medo de nos atrapalharmos a fazê-lo com a altura de Lagos, e de repente, toma lá um desnível de quase 1 m!
Chegamos a Tunes!
Felizmente os elevadores funcionavam. 🙂
Parte 2: Tunes-S.B. Messines
Nesta altura, antes de sairmos de Tunes, eu aviso a minha tia que mais 1 hora devo estar lá. lol Primeiro ainda estivémos ali algum tempo a fazer uns vídeos e tirar uma fotos. Depois, bom, depois metemo-nos por atalhos, andámos meio perdidos no meio da serra, e chegámos lá umas 2 horas mais tarde do que o previsto. 😛
Pensávamos que estava quase, mas enganámo-nos. Claro que não podia haver uma viagem em que não nos perdêssemos de alguma forma. 😛 Armámo-nos em espertos e decidimos usar o Google Maps, seguindo uma rota pedonal, para atalhar caminho:
O resultado foi andar a fazer BTT nocturno, às apalpadelas no meio da serra, por laranjais e afins, com medo que aparecesse algum agricultor de espingarda em punho e cães em pulgas, quase sem bateria nos telemóveis, “longe” da civilização, a um domingo quase à meia-noite, sem comida, sem sequer sabermos dizer onde estávamos para alguém nos vir buscar, se fosse o caso. 😛 Nem tudo era mau, claro, tínhamos as tendas, podíamos pernoitar ali no meio se víssemos que era mais sensato. E tínhamos boas luzes nas bicicletas para iluminar o caminho. Mas o caminho era terra batida com pedras e calhaus. Muito chocalhámos nós por aqueles caminhos. Felizmente sem cairmos uma única vez, lol. Por um lado até foi divertido.
Depois, saídos dali, íamos lançados para apanhar o IC1 num pequeno troço, que nos levaria mais directamente ao destino, mas vimos à entrada que era interdito a bicicleta, e lá fomos nós metermo-nos outra vez por atalhos, mas desta vez asfaltados! 😛
Conseguimos não passar por cima de uma cobra na estrada (aargh) numa descida. E depois de mais uns quilómetros a pedalar, finalmente, chegámos a casa, sãos e salvos, cobertos de terra vermelha. 🙂
Garagem interior, claro. 😛
Et voilá! Cerca de 300 Km em bicicleta, de Lisboa a Messines, em 6 dias – conseguimos, sobrevivemos e até gostámos! 🙂 A repetir!
CONCLUSÕES para a posteridade:
Cuidado com os atalhos… O Google não indica a qualidade dos acesso pedonais.
Investir num GPS a sério, dedicado, em vez de usar o telemóvel – se a bataria acaba, não temos GPS nem telemóvel!
Levar baterias extra para os telemóveis.
Levar comida extra caso nos percamos!
Tentar não andar tão tarde ainda na estrada, é mais chato quando nos perdemos, está escuro, as pessoas estão em casa a dormir, etc
De manhã, no parque de campismo do Serrão, enquanto arrumávamos as coisas para partir, pusémos os gadgets electrónicos a carregar e esperámos que as toalhas secassem (de noite nada seca por causa do orvalho, quase ficam mais molhadas do que antes de as deixarmos lá).
Arrancámos rumo a Aljezur, que ficava a 3 Km do parque, para almoçar. Havia bastante movimento. Era sábado, dia de mercado, e aproveitámos para ir comprar fruta boa! Depois passámos a ponte e fomos comer melancia e pêssegos para um pequeno parque com muita sombra, e observar as cobras e peixes e afins na ribeira.
Depois disto voltámos um pouco para trás, e fomos comprar umas coisas ao Intermarché depois de um taxista nos dizer que era o único sítio ali tipo supermercado. Distraí-me com as horas, e entretanto já passava das 14h30, e alguns restaurantes já tinham a cozinha fechada. Então voltámos ao “centro”, passámos o mercado municipal e entretanto lá encontrámos um sítio onde almoçar “tarde”. Curiosamente, também havia minimercados ali naquela rua (é o que dá perguntar coisas a taxistas, que andam de carro todo o dia).
Como um lugar livre mesmo em frente, estacionámos as biclas (que não têm apoio de descanso, por isso, mais uma vez, vivam as Rok Straps!).
Aljezur Cycle Chic? 🙂
Um luxo, biclas logo ali ao lado! Estávamos sempre de olho a ver quando é que vinha um tipo lançado contra elas, a pensar estacionar sem reparar que elas estavam lá. 😛
Entretanto chegou um casal espanhol também para almoçar, ainda mais tarde que nós. 😛
Esta rua em Aljezur é parte de uma Estrada Nacional, a N120, e tinha um movimento considerável, nomeadamente de camiões. Lembro-me destacena quando lá passei há 10 anos, de ficar abismada como é que se permitia aquele volume e tipo de tráfego numa rua em que os passeios são meros pequenos pára-choques das casas:
O cruzamento de alguns camiões e afins numa curva antes do mercado municipal era complicado, e os peões não têm espaços decentes. Aquilo não está certo. Lembrava muitas ruas de Lisboa, mas com camiões.
Enquanto almoçávamos vi passar um grupo de 3 ciclistas que também deviam estar a fazer uma viagem como a nossa, em biclas de BTT. 🙂
Entretanto, depois de bem almoçados, lá seguimos rumo a Sagres. Mas quando estávamos a tirar as Rok Straps para soltar as bicicletas estacionadas, surge uma senhora do restaurante onde acabáramos de almoçar e mete conversa. E começa a dizer que aqui há pouco tempo uns amigos tinham feito uma coisa parecida, com os filhos, num atrelado. “Hmm, e esses amigos, como se chamam?”, perguntámos-lhe, olhando um para o outro. “Filipa e João”. “Ah, conhecemo-los, sim!” O mundo é pequeno! Falámos destas pequenas “loucuras” de uns e outros (tão sãs!) , ela desejou-nos muita sorte, e lá seguimos nós.
O primeiro troço, pela N120 até à bifurcação onde continuámos pela direita pela N268 (para a esquerda seguia a N120 para Lagos) foi mais movimentado. Havia algum trânsito automóvel, e também alguns camiões. A estrada era boa mas tinha uma berma pequena (é melhor uma estrada sem berma nenhuma do que uma com uma berma que nós não possamos usar em segurança como via). Não sei se era por ser sábado, pareceu-me haver mais trânsito e mais apressado.
Depois já na N268 apanhámos longos troços de estrada a subir e a descer, sinuosa. Puxou por nós, mas tínhamos almoçado bem! 😛
A paisagem era bonita e o dia lindo reforçava-a. Parámos um pouco para a apreciar e fotografar as vaquinhas que pastavam lá em baixo com um quase ensurdecedor ruído de badalos. 🙂
Depois da Carrapateira, onde não fomos espreitar a praia, para não chegarmos muito tarde a Sagres, foi onde a estrada começou a melhorar em termos de trânsito, apesar de o pavimento não ser tão bom (mas era perfeitamente adequado, ainda assim). Era bom também pelas árvores que ladeavam a estrada, tornavam-na mais agradável.
Continuámos sempre a pedalar em posição primária e fazendo o “control & release” quando necessário. A posição primária é entre o centro da via de trânsito e a marca do rodado direito dos automóveis, consoante as circunstâncias e a estrada em causa. No curso “Condução de Bicicleta em Cidade” aprende-se a aplicar este e outros conceitos. Do “control & release” falei neste post.
As pessoas têm imenso medo de serem levadas à frente ou mandadas ao chão por um carro, mesmo na cidade, onde isso é mais raro, mas principalmente em estradas nacionais e rurais, onde é o acidente mais comum, dado que há poucos cruzamentos, as estradas são longas, etc. Nós tínhamos noção desse risco acrescido deste tipo de acidente, e por isso mesmo mantivémos a posição primária nas estradas onde a berma não podia ser usada como via de trânsito (algo que só será legal a partir de Janeiro de 2014, mas que já muita gente faz por razões óbvias). Este tipo de acidente acontece porque um condutor ou não vê o ciclista ou avalia mal a sua velocidade ou posição e até o espaço para ultrapassagem. Se um condutor nos vê toma as medidas necessárias para lidar connosco (abranda e/ou ultrapassa). O perigo não é estar “no meio da estrada”, é não sermos vistos (a tempo) e/ou não comunicarmos a mensagem correcta, de forma a permitirmos às outras pessoas reagirem atempadamente e adoptarem os comportamentos adequados.
Por isso é fundamental estarmos onde possamos ser vistos (onde as pessoas já estão a contar encontrar outros veículos) e sermos visíveis (luzes, contraste, movimento).
Aqui está o Bruno, lá ao fundo, perfeitamente visível logo a grande distância, e a comunicar inequivocamente que não será possível ultrapassá-lo sem usar a via da esquerda, pelo que todos os condutores que o encontram no caminho têm muito tempo para preparar adequadamente a ultrapassagem (abrandar, aguardar uma zona da estrada com visibilidade suficiente, esperar que não haja trânsito em sentido contrário e efectuar a manobra) – e como ele deixou espaço à sua direita, e vai monitorizando a ultrapassagem pelo espelho retrovisor, tem sempre um espaço de reserva que pode usar para se desviar, se necessário, se algum condutor não efectuar da forma mais correcta essa mesma ultrapassagem. Ver, ser visto, comunicar, dar espaço para erros. Na nossa escola ensinamos a aplicar estes conceitos e valem tanto na cidade como fora dela, como pudémos avaliar pessoalmente nesta viagem
A dada altura chegamos ao parque eólico onde 10 anos antes andámos também, e vamos tirar as fotos da praxe, claro! 🙂
Estava lá uma autocaravana (mais uma!), um pai e dois miúdos foram ver as torres também, e ele ofereceu-se, em inglês, para nos tirar uma foto, ainda antes de ter percebido que não éramos estrangeiros (depois tirou a foto à mesma :-P). Queremos contribuir para que isto deixe de ser algo que se associe a estrangeiros, os portugueses também merecem usufruir do seu belíssimo território, em bicicleta, bolas!
Já perto de Sagres seguimos pela berma da N268, a boa velocidade (mas não a par, que a nossa velocidade e a largura da berma não eram compatíveis). A dada altura apercebemo-nos que havia um troço da Ecovia do Algarve ali ao lado, mas não sabíamos como lhe poderíamos aceder nem para onde ia, pelo que era irrelevante – e a berma da N268 estava a prestar bom serviço na altura.
Entretanto pôs-se uma ventania e um frio algo desagradáveis, pelo que sofremos um pouco a montar a tenda. Optámos por jantar no café do parque. Essa experiência, e depois os balneários também, deixou-nos uma sensação de alguma decadência deste parque, o que é uma pena. 🙁
CONCLUSÕES para a posteridade:
um relógio de pulso pode ser boa ideia, para não nos distraírmos com as horas (que afectam as opções para almoçar, por exemplo)
o parque de campismo de Sagres é para evitar se conseguirmos descobrir uma alternativa melhor (não é mau mas também já não é bom)
o parque de campismo de Sagres era ventoso à noite mas agradável durante o dia
não questionar a rota definida pelo homem do leme se decidimos não contribuir à partida para definir a mesma 😛
não será nada mal pensado investir mais tarde num sistema destes para nós, se encontramos uma solução que não requeira o capacete (que não usamos) como suporte :-/ Permitirá comunicarmos melhor, e mais frequentemente quando não podemos seguir a par, e ainda dá para ouvir música, que foi algo de que senti falta em alguns troços mais monótonos
Fomos almoçar a um restaurante de que não me recordo o nome, mas que fica no Porto das Barcas (ponto C no mapa). Calminho, perto do mar, com mesas cá fora. 🙂
Depois arrancámos os três rumo a Odeceixe. Mas primeiro, íamos passar em S. Teotónio, a ver se tínhamos sorte e encontrávamos aquilo de que o Bruno precisava para reparar o fogão de campismo.
O “control & release“ não funcionou tão bem a três, ou pelo menos com dois a circular a par (só há uma coisa que afronta mais os automobilistas do que não andar chegado à direita, é andar a par), mas funcionou ainda assim.
Em S. Teotónio a LHT do Bruno foi “baptizada”, caiu ao chão com uma rajada de vento mais forte. Não houve danos, salvo a fita do guiador, que se esfarelou no ponto de impacto. Mas o alforge e até o espelho retrovisor sobreviveram incólumes (provavelmente porque a bicicleta estava com a roda dianteira travada, e tinha peso, baixo, de ambos os lados, o que permitiu uma queda suave e lenta).
Em Odeceixe o caminho até à praia é deslumbrante! 🙂 Fazê-lo de outro modo que não de bicicleta é um sacrilégio. No final tem umas subidas, masa praia vale todas as gotas de suor que possam despoletar. 😛
Chegados à praia e despedidas feitas ao Pedro, queríamos ir ao banho e desfrutar daquela bela Natureza! 🙂 Ai, a ideia dos cacifos para ciclo-viajantes… Descemos aquilo com calma até lá abaixo, e empurrámos as biclas na areia, até uma pequena duna (perdoai-nos, senhor, esse pecado).
Só não as levámos para o pé das toalhas porque cansava mais. 😛
Arrumadas as biclas, fomos mudar de roupa no WC do café que dá para a praia e onde comprámos uns gelados como “lanche” (e onde jantaríamos depois).
A praia, pelo menos do lado fluvial, é linda de olhar e linda de sentir.
Embora dispensasse a vista de tanta autocaravana, confesso… E depois são todas brancas, é monótono. 😛
Entretanto o pessoal debandou todo e ficámos quase só nós na praia, o que deu jeito para trocarmos de roupa. Um vestido é super prático para isso, primeiro a parte de cima (faz-se um topless rápido) e depois a parte de baixo, resguardada de olhares pelo vestido. De qualquer modo, ali ao lado há uma praia de nudismo. 🙂 Para quem não é adepto de vestidos, a toalha serve! A beleza da coisa é que, do lado fluvial conseguimos sair da água impecáveis, sem areia, é só secar e mudar de roupa.
Entretanto, resolvemos jantar ali qualquer coisa em vez de deixar isso para as tantas, no parque de campismo.
Arrancámos já de noite praticamente, e pedalámos na boa os 15 Km até ao parque de campismo.
Este parque do Serrão tinha uma boa vibe. Mal chegámos apercebemo-nos de que 1) tinha imensas crianças e jovens e 2) havia bicicletas por todo o lado. Deve ser um parque particularmente interessante para famílias com miúdos, tinha campos desportivos, um relvado onde havia um grande grupo numa actividade qualquer logo quando chegámos (lá para as 21h30), piscina, e as ruas principais asfaltadas e em muito bom estado para andar de bicicleta, e uma zona comum de grelhados. Muito fixe.
Pouco depois de escolhermos o nosso lugar, chegou uma família. Entretanto lá nos tínhamos arrumado (tenda, corda para a roupa, bicicletas parqueadas – e como as bicicletas ficaram um bocado perto da tenda deles, fui lá pedir desculpa pelo facto, avisando que iríamos sair na manhã seguinte de qualquer modo. A senhora respondeu que “tudo bem, não há problema nenhum”, e ainda se ofereceu para nos deixar carregar as baterias dos telemóveis e assim no ponto de electricidade deles. 🙂 Por acaso já tínhamos pedido um para nós, e dado que tínhamos várias coisas para carregar, foi melhor, mas é uma alternativa a considerar para futuras viagens, a generosidade dos vizinhos. 🙂
Menos fixe: água “pró fria” no duche. Episódio para rir: indeliberadamente, tomei banho no balneário masculino. Estava vazio quando entrei e quase todo o tempo em que lá estive, só me apercebi mesmo quando estava a sair do edifício, pelo ar confuso de um rapaz que entrava naquele momento, que me olhava como se eu tivesse cometido uma grande infracção, lol.
Muito menos fixe ainda: furei o chão da tenda num pedaço de arame farpado (!) enterrado no chão, que não detectámos quando montámos a tenda (era de noite e fizémo-lo com pouca luz). Felizmente que não furei o colchão!
CONCLUSÕES para a posteridade:
Odeceixe é definitivamente para revisitar!
ao empurrar as LHT, carregadas, pela areia, percebemos que ajuda imenso a manobrabilidade se a mão atrás segurar no tudo do selim, logo abaixo da sua junção com o “top tube“
pedalar de noite no Verão é mesmo fixe!
montar a tenda ainda de dia, ou usar uma lanterna para ver o chão, nomeadamente se está lá algo que possa furar a tenda ou um colchão, por exemplo
confirmar efectivamente se estamos no balneário certo para não arriscarmos situações de atentado ao pudor, lol
Saímos do parque de campismo ao fim da manhã e arrancámos em direcção a Vila Nova de Milfontes. Ainda estávamos na vila quando vi o Nuno Markl a falar ao telemóvel na rua, junto a uma esplanada. Ainda pensei em ir lá, meter conversa e dizer “quando quiser realmente aprender a andar de bicicleta, é aqui!“, mas depois achei que o homem tem direito a férias e que deve estar farto de gente a chateá-lo, e segui. 😛
Em V.N. de Milfontes fomos procurar um sítio onde pudéssemos reparar o fogão ou então, talvez, comprar outro. Por momentos pensei que a vila era muito à frente, na rua principal via um parque de estacionamento para biclas num lugar de estacionamento em vez de no passeio, mas depois vi que pertencia à frota de uma empresa. 😉
Afastámo-nos da rua principal à procura de um lugar mais calmo para almoçar. Tivémos sorte, encontrámos um restaurante (ponto C no mapa) com mesas de madeira e bancos corridos cá fora e à sombra, e onde pudémos deixar as biclas ao pé e também à sombra. 🙂
Depois de almoçados, refizémo-nos à estrada. Para reparar o fogão não tivémos sorte, mas encontrámos uma loja tipo “dos 300” (ponto D no mapa) que tinha um kit de 2 (um fogão + um candeeiro), por 45 €. Estivémos ali vai-não-vai, mas decidimos não gastar dinheiro naquilo – teríamos mais coisas para acartar, aquilo podia estragar-se também e depois ficávamos a arder (era uma marca indiferenciada, e não voltaríamos facilmente à loja para pedir a garantia, enquanto que o fogão que temos e que se avariou é um Coleman). Pensámos: pelos 45 € do fogão quase que conseguimos almoçar e jantar nos próximos 3 dias (a técnica de comer num restaurante e depois levar o que sobra para o jantar é muito prático, e geralmente as doses são grandes, mas na verdade só fizémos isto uma vez,neste mesmo dia). Não compensava muito comprar outro fogão e então seguimos.
Antes de nos fazermos ao caminho para a Zambujeira do Mar, fomos espreitar o Farol de Milfontes. Já lá tínhamos passado anos antes e quisémos revisitar a paisagem. Aproveitámos para re-aplicar o protector solar, beber água, respirar mais um pouco de sol & mar, e reunir mais umas “stock photos“. 🙂
E allez que se faz tarde. Passar a ponte sobre o Rio Mira foi fixe, uma bela paisagem apreciada à (boa) velocidade da bicicleta. 🙂 Depois pela N263, que tinha bom piso e uma berma larga para irmos a par muitas vezes (um direito que quem vai de carro assume como garantido, ir lado-a-lado a conversar e comunicar e que a partir de Novembro também “assiste” aos ciclistas). 🙂 Ah, e o uso das bermas também passa a estar previsto na lei como uma opçãopara os ciclistas.
Uma paragem para um chichi, mais água, ver o mapa e umas fotos. 😛
Na nossa primeira road trip [de carro], quando começámos a namorar, há mais de 10 anos, passámos pela praia de Almograve, e quisémos revê-la, agora a pedalar. 😉 Assim, cortámos para a direita, rumo à costa:
A vila tinha bom aspecto, foi uma lufada de ar fresco.
Parámos e encostámos as biclas a mais uma parede, para beber água, e comprar fruta e mais umas coisas num minimercado. Quando nos apercebemos, damn it!, de um stand de farturas do outro lado da rua. Bolas, tanta pedalada a queimar combustível acumulado e agora vamos lixar tudo com uma fartura à qual não vamos resistir.
Aquele sorriso de prazer está carregadinho de culpa. 😛
Mais umas pedaladas e chegamos à praia. Há 10 anos atrás havia o restaurante, agora desactivado e mais nada.
Era uma estrada em terra batida até à praia, e os carros estacionados quase à beira de caírem lá para baixo. Agora havia uma zona delimitada para estacionar, um pouquinho mais recuada que antes, com uns blocos com um buraco no meio para dar estrutura mas sem impermeabilizar o solo, presumo), uma zona de estadia com bancos e sombra para apreciar a paisagem:
Estacionámos lá as biclas e enquanto eu tirava fotos o Bruno meteu conversa com umas pessoas que lá estavam, que disseram que se tinham cruzado connosco na estrada, e daí se desenvolveu uma conversa sobre o uso da bicicleta. 🙂
Pessoalmente dou-me melhor com a bicicleta, adoro andar a pé, mas entre a escoliose e as pernas pesadas, fico KO rapidamente. 🙁 A bicicleta acomoda melhor estes handicaps.
Ainda era quase “cedo”, vimos que havia uma rampa de acesso à praia e pensámos “‘bora para a praiaaaaaa!“.
Havia um parque para bicicletas mas 1) era um dobra-rodas e 2) estava demasiado longe da praia para lá podermos deixar as biclas com toda a nossa bagagem.
Pensei que os sítios cycle-tourist-friendly deveriam ter cacifos onde guardar as bicicletas com toda a carga, junto do balneário onde se pudesse tomar duche e mudar de roupa. Aaah, a utopia. 🙂
Solução “à tuga”? Levar a bicla para o pé de nós. Não é algo que nos orgulhe, mas, dado que éramos só nós a fazê-lo, não foi um problema e permitiu-nos desfrutar de uma experiência boa. 🙂
Deixámo-las na rampa, fora da areia, encostadas à vegetação.
Para um ladrão de ocasião, empurrá-las lá para cima seria difícil e lento, e tirar de lá coisas também não seria imediato, e então, apesar de estarmos sempre a olhar para lá, pudémos dar uns mergulhos e caminhar na areia. 🙂
Usámos os balneários que ainda existem, embora desactivados (havia 2 duches + 1 WC), e agora só há 1 WC, com porta. Vários minutos à espera para trocar de roupa e vestir o fato-de-banho, e pronto. Estávamos preocupados com a perspectiva de continuar a viagem pedalando com a pele cheia de sal e areia, mas perguntámos a alguém se sabia se havia algum duche na praia e disseram-nos que sim, mesmo no fundo da praia, no recanto. Pensámos que se referia a um duche “oficial”, mas afinal era um sítio onde escorria pelas rochas água doce e as pessoas usavam como duche. 🙂 Brilhante! Pudémos sair da praia e voltar à roupa normal sem recear ficarmos assados com areia nos calções. 😛
Soube mesmo mesmo bem aquela horinha de praia. 🙂 Não gostamos de confusão nem de praias de betão, em cima da praia só deve haver dunas, pinhal, etc, nunca carros, asfalto, prédios!… Infelizmente o resto dos portugueses não vê as coisas da mesma maneira, parece, e por isso são raras as praias assim. Esta é mais uma de aproveitar enquanto durar…
E a coisa boa não acabou ali! Logo à saída, havia uma estrada em terra batida que continuava junto à costa. Perguntámos a alguém se aquilo continuava para a Zambujeira do Mar e disseram-nos que não, que ia dar a um sítio bonito, a um porto de pescadores (ponto H no mapa), mas que ainda era longe. Olhámos um para o outro, já deviam ser umas 20h, faltavam uns 20 Km para chegarmos ao próximo parque de campismo, que podia fechar entretanto a recepção, etc, etc,… e dissémos “vamos lá!”. 😀
Ainda bem que o fizémos. No caminho e no destino, a luz era perfeita, a vista também, o silêncio divinal. Até o ar e a própria terra da estrada, apesar de meio ondulada, eram perfeitos.
Depois voltámos ao caminho, pedalando por estradas quase sem trânsito, e quase sem gente, já de noite.
É óptimo pedalar à noite (com boas luzes!…), relaxante, mais fresco, sem preocupações com protector solar, etc. O único problema são as melgas – temos que pedalar depressa para elas não nos apanharem! 🙂
Acho que démos “uma ganda bolta“, mas lá chegámos, finalmente, a Zambujeira do Mar e ao seu parque de campismo. A recepção fechava no preciso momento em que entrei na mesma para fazer o check-in: 22h00! Tivémos sorte, o minimercado ainda estava aberto e pudémos reabastecer-nos para o jantar. Depois foi andar às voltas a procurar um sítio bom para montar a tenda, enquanto éramos atacados pelas melgas (pelo menos até eu sacar do repelente!).
Cena estranha deste parque: podemos fazer o check-in até às 22h, mas a partir dessa hora já não temos direito a duches, temos que pagar para tomar banho entre as 22h e as 8h (!). Tem que se pôr uma moeda numa máquina FORA da cabine!!… Fantástico. Mas à parte isso, era um parque simpático, do que nós vimos e usámos na nossa curta passagem por lá. 🙂
CONCLUSÕES para a posteridade:
não sair de casa com equipamento avariado ou mal reparado (o fogão, no nosso caso)
Almograve é sem dúvida para repetir
uma cena destas tinha-me poupado tempo que podia ter sido usado em mais mergulhos no mar! 😛
uma cenas destas também me parece cada vez mais interessante, mesmo em viagens-sem-ser-até-ao-fim-do-mundo! 😉
uma luz daquelas de fixar à testa daria jeito para todas estas montagens de tenda e afins à noite
além de um repelente de insectos, não sair de casa sem um creme para picadas de insectos…
Arrancámos tarde, deviam ser umas 11h. O objectivo era pedalarmos até à Lagoa de Santo André e almoçar por lá enquanto nos resguardávamos da hora mais perigosa de exposição solar.
Sempre a aplicar a técnica de “control & release“! É essencial garantir que somos semprerelevantes para os outros utentes da estrada. Temos que estar onde eles esperam encontrar veículos e garantir que somos vistos, e a nossa posição e velocidade identificadas, o mais cedo possível, e deixar logo claro que quem nos ultrapassa tem de efectuar uma manobra para tal. Não deixar isto acontecer numa estrada nacional em que o limite são 90 Km/h, e muitos excedem-no!!:
A Lagoa de Santo André,… não conhecia a zona e tinha ideia de que seria um sítio bonito, quis ir conhecer. Foi sempre a descer para lá chegar.
Mas foi uma decepção brutal. Construções desordenadas, degradadas e abandonadas, comércio fechado, um ar abarracado, pobre, esquecido. Mal parámos, nem tirámos fotos da zona da praia/lagoa, voltámos logo para trás. Parámos junto a um WC público e é a única foto…
Voltámos a subir tudo até à estrada principal para seguir para outras paragens mais atractivas. Curiosamente, a meio da subida encontrámos pessoas conhecidas de Lisboa! O mundo é pequeno… 🙂
Entretanto chegámos a Santo André, e a moda das passadeiras para bicicletas pintadas nos passeios, em sítios onde a circulação na estrada é pacífica, chegou lá:
O calor apertava e arriscávamos queimaduras solares se continuássemos, e a fome era incontornável! Acabámos por ir almoçar ao Rosmaninho da Atalaia (ponto C no mapa), que tinha um belo espaço sombreado à frente, onde deixámos as biclas e onde depois usámos o portátil para tratar das fotos, etc.
Bom piso, via larga e ainda a berma à esquerda, caminho directo. Deu imenso jeito para podermos rolar depressa e, muito importante, lado a lado (afinal, pedalar é uma coisa social, e isto eram as nossas férias!). Tudo sem nos preocuparmos praticamente nada com automóveis (íamos sempre controlando pelo retrovisor, não fosse vir lá um chico-esperto qualquer, e houve um ou outro) – não havia cruzamentos à nossa esquerda, não tínhamos que nos preocupar com as ultrapassagens, etc. Foi per-fei-to. 🙂 Melhor só se houvesse árvores para darem sombra, mas como já passava das 17h, nem sequer sofremos com o sol.
Não percebemos que justificação há para pôr ali naquela zona, uma autoestrada quando há o IP8 ali ao lado… E quando isso for uma realidade, deixa de ser acessível de bicicleta! É inaceitável pois não haverá alternativa similar para peões e ciclistas…
Entretanto, não virámos para Sines, e seguimos logo em direcção à praia de Morgavel, onde parámos para descansar, beber água, namoriscar, absorver a paisagem, e tirar umas fotos.
Até Porto Côvo foi um pulinho. Foi giro andar nos mesmos caminhos que fizémos 10 anos antes, no mítico Nissan Micra. Tudo mais ou menos igual, a road trip, acampar, só que desta vez de bicla! Pouco antes da vila, mais umas fotos e uma pausa para inspirar a paisagem, e brincar um pouco.
A curiosidade deste parque era que a zona dos duches tinha luzes automáticas, e então quem tomava banho a horas menos concorridas, como nós, acabava a tomar banho meio às escuras, porque o sensor das luzes não apanha gente nas cabines de duche!!…
Foi o primeiro parque onde pedimos electricidade, mas a nossa extensão tripla era muito curta (viajamos de bicla, o tamanho conta!), tivémos sorte que eles tinham uma grande para emprestar. Inicialmente pensámos que poderia ser overkill levar uma extensão tripla, mas deu muito jeito! Afinal, tínhamos 6-7 gadgets para carregar, entre câmaras, laptops e telemóveis!
O nosso fogãozinho cedeu à fuga que tinha, e foi a última vez que o usámos. 🙁 Mas havemos de o reparar e servirá de novo em aventuras futuras. 😉
Com o desvio e decepção da Lagoa de Santo André, não tivémos oportunidade de ir um pouco à praia neste dia, foi só pedalar e curtir a paisagem.
CONCLUSÕES para a posteridade:
estudar melhor previamente os pontos de interesse, para reduzir tempo desperdiçado em banhadas
montar campo ao lado de um parque infantil pode não ser o cenário mais sossegado (não foi mau, mas podia ter sido!)
alforges e afins impermeáveis dão jeito também para lidar com o orvalho!
precisamos de arranjar umas capas / lençóis para os colchões, mesmo num chão nivelado escorregamos neles dentro do saco cama, o que é um pouco desconcertante