O Pedro (Velocorvo), convidou-nos para um S24O a meio de Abril e nós aceitámos prontamente! Para nós foi a primeira experiência neste formato, e a primeira vez a fazer campismo selvagem, mas o Pedro é um habituée e levou-nos para um seu local de eleição, no meio de umas rochas na serra de Sintra.
Para nós não é fácil conjugar coisas destas com outras pessoas dado que o nosso fim-de-semana (2ª e 3ª) não coincide com o fim-de-semana normal da maior parte das pessoas (sábado e domingo). Mas desta vez deu para juntarmos 6 pessoas, com o plano de sairmos de Lisboa a meio da tarde de Domingo (o que permite conjugar a volta com o nosso trabalho de manhã na escola), e regressarmos a Lisboa ao final da manhã de 2ª-feira.
Para isso foi fundamental a co-modalidade com o comboio, que apanhámos para lá e para cá.
Apanhámos o comboio em Campolide, outros no Rossio, outros em Benfica, e saímos na última estação, em Sintra. Depois de todos juntos, arrancámos, pois tínhamos uma serra para subir.
Chegámos ainda com tempo de montar o estaminé com luz do dia. Ficou apertado, mas coubémos todos.
A Mutthilda foi connosco, claro. E o A. levou o gira-discos, o que deu um toque especial à experiência. 🙂
Antes e depois do jantar subimos à rocha para apreciar a vista. O pôr-do-sol primeiro, e as estrelas depois.
O jantar incluiu massa instantânea, cogumelos, queijo, paté, folhados caseiros, chá, etc. Comida não faltou.
Depois de uma noite com um momento de emoção em que a S. se afastou para atender a uma chamada da natureza, caiu e se desnorteou momentaneamente para encontrar o caminho de volta sozinha, começando a gritar por ajuda, acordámos frescos. Tomar o pequeno-almoço na serra, na manhã seguinte, foi também muito bom.
Depois de voltarmos a arrumar tudo, lá saímos da “caverna” a meio da manhã, para regressar à civilização.
A parte mais positiva dessa perspectiva é que o que sobe (no dia anterior) tem que descer. 🙂
A ideia era aproveitar a pausa da Páscoa para fazermos uma pequena viagem de bicicleta com amigos, uma viagem familiar dado que eles levariam os filhos e nós a Mutthilda, com campismo pelo meio. Tínhamos três dias, 5ª, 6ª e sábado antes da Páscoa. Optámos por ir para o Meco, o que foi fixe pois eu e o Bruno ainda não conhecíamos aquela zona.
Fomos combinando as coisas por telefone e nos Hangouts do Google. Partimos dos tracks de GPS cedidos pelo Gonçalo, que não pôde ir, mas o R. levou um amigo (que não anda regularmente de bicicleta) para fazer o percurso com ele uns dias antes, e assim fazer o reconhecimento. Uma preocupação extra justificada pelo facto de que íamos levar connosco 3 crianças entre os 6 e os 9 anos, para pedalar distâncias muito maiores do que as que estavam habituadas a fazer.
Na noite anterior eu e o Bruno deitámo-nos às tantas a preparar as coisas nas bicicletas. Garantir que não falta nada, hesitar no que levar e no que deixar, contorcermo-nos com que roupa levar e quanta, etc. É sempre assim quando temos uma viagem, seja de bicicleta ou de avião. Talvez um dia sejamos capazes de fazer um planeamento mais eficaz, quando fizermos isto mais regularmente. Espero. 😛
De qualquer modo, no dia 2 de Abril de 2015, um bocado em cima da hora, mas estávamos em Belém às 10h para apanhar o barco, como combinado. O funcionário da Transtejo foi um idiota, em vez de nos explicar que era um ferry e que abririam o portão para os veículos saírem e entrarem – por onde poderíamos assim passar, deixou-nos lutar para conseguirmos passar pelos torniquetes normais com as 4 bicicletas carregadas , tendo que andar a levantá-las e contorcermo-nos para fazer passar tudo a tempo de não perdermos o barco.
Mas enfim, o ferry chegou, e nós entrámos. Assim começava a nossa aventura! 🙂
Dos adultos, o R. e o B. levavam as suas Xtracycles, o Bruno levou a Big Dummy com a Mutthilda no deck, eu levei a LHT com um FollowMe Tandem.
Das crianças, o M. levou a sua bicicleta e ora iria a pedalar ora iria, junto com ela, em cima da longtail do pai. O R. júnior levou e pedalou a sua própria bicicleta. O H. ora iria a pedalar a sua bicicleta sozinho, ora iria a pedalá-la atrelada à minha LHT, ora iria à boleia na longtail do pai (enquanto eu rebocaria a sua bicicleta).
Cada um pedalou a sua bicicleta desde o barco até pararmos numa pastelaria na Costa da Caparica para tomar o pequeno-almoço.
A seguir apanhámos uma estrada estreita, com algumas curvas com pouca visibilidade, com uma via em cada sentido, sem bermas, e com algum trânsito. Íamos num grupo só, adultos à esquerda, crianças à direita, o R. júnior, o mais velho, ia no fim, ao lado direito do Bruno, eu seguia à frente com o H., o mais novinho, à minha direita, e o pai dele atrás de nós.
Foi tudo pacífico, mas íamos bastante devagar, ao ritmo dos miúdos (10-12 Km/h), e para reduzir a probabilidade de a impaciência levar alguns condutores de automóveis a fazerem ultrapassagens menos que ideais, optámos por nos sub-dividir em 2 grupos, mantendo-nos próximos mas com espaço suficiente para acomodar 2-3 carros à medida que nos fossem ultrapassando por fases.
Correu tudo muito bem, não foi propriamente a parte mais relaxante, mas foi tranquilo. Mas para isso foi fundamental a comunicação. Quem vai à frente comunica com quem vai atrás se é seguro sermos ultrapassados ali ou não, e quem vai atrás vai passando essa mensagem aos condutores que nos seguem, sinalizando o “pode passar” e o “aguarde, não pode passar”. Na grande maioria dos casos as pessoas não são estúpidas e percebem isto, respeitam e tudo corre bem. Só de vez em quando alguém passa quando não deve, ou passa demasiado depressa ou demasiado perto, mas nada de especial, estávamos todos alerta e preparados para lidar com isso.
Depois de uma subida mais exigente, em que os dois mais pequenos foram à boleia dos pais, mais um pouco e chegámos à Mata Nacional dos Medos. Passada a cancela, deixar os automóveis para trás, o ruído, o fumo, o perigo, e embrenharmo-nos no pinhal, soube mesmo bem. Estávamos “na natureza”! As crianças puderam andar de bicicleta à vontade e a Mutthilda pôde acompanhar-nos correndo e explorando livremente. Começava a parte mais interessante! 🙂
O pavimento estava longe de bem conservado, mas não tão mau que não compensasse a ausência de carros. 😉
Não temos fotos de todo o percurso para lá e para cá, mas apanhámos asfalto bom, asfalto mais-ou-menos, asfalto em mau estado, caminhos de terra batida, caminhos com brita, caminhos de areia (muita areia), etc. Estes foram espectaculares, no meio do pinhal:
Quando chegámos à NATO tivémos que passar por uma zona cheia de cães vadios. Por momentos receiei um pouco, mas apesar de ladrarem, e da Mutthilda ladrar também, os cães nãos nos seguiram nem nada do género. Mas resolvemos pedalar mais um pouco para nos afastarmos, de forma a podermos soltar a Mutthilda mais à vontade, e não correr tanto o risco de almoçarmos ao pé de dejectos caninos. Depois de fazermos uma pausa para um almoço piquenique no meio da Herdade da Apostiça (o que implicou pegar nas bicicletas para as fazer passar por cima de um portão / cancela – carregadas, foi um esforço de equipa), retomámos a pedalada até chegarmos finalmente ao parque de campismo de Fetais.
Montámos campo ainda era dia.
Os miúdos entretiveram-se com jogos e com a Mutthilda.
O percurso da Trafaria até ao parque foi este. Foram 34 Km feitos em 3h30.
Ao segundo dia não pedalámos, fizémos antes uma bela caminhada até à praia do Meco, 3 Km, 35 min a andar.
Ainda deu para um bocadinho de frisbee com os miúdos e com a Mutthilda.
Estivémos na praia cerca de hora e meia, a brincar, absorver a natureza e a paisagem, e depois regressámos ao parque.
As refeições foram preparadas no parque de campismo, tínhamos fogões, panelas, pratos e afins, e comida pré-preparada ou fácil de preparar (tipo ‘noodles’).
A cozinha:
À noite a tarpa deu jeito para cortar um bocado a luz do candeeiro e dormirmos melhor. Infelizmente descobrimos que as pessoas por vezes se esquecem onde estão, ou da boa educação, e tivémos que aturar grupos de pessoas a conversar alto, à porta das suas roulotes, nas primeiras horas da noite, enquanto tentávamos dormir. Uns tampões para os ouvidos teriam sido, afinal, boa ideia.
Ao 3º dia, era tempo de regressar a casa. Fizémos o caminho inverso, penso que houve só uma ou outra alteração (um caminho de areia com bicicletas carregadas, a descer, faz-se, a subir, esqueçam).
O nosso comboio era assim:
Descidas para fazer devagar e sem travar a roda da frente. 😛
Muita areia. Procurámos uma alternativa mais ao lado.
Paragem para almoço!
De volta ao caminho.
Neste regresso, para fugirmos a um grande troço de areia, também tivémos novamente que passar por cima de uma cerca – desta vez descarregámos as bicicletas para o conseguirmos fazer de forma mais segura e “ergonómica”).
Quando chegámos outra vez ao asfalto, junto à NATO, o H. queria ira pedalar sozinho, então começou, com a ajuda do M. a tentar desengatar a bicicleta dele do FollowMe Tandem e, logo, da minha bicicleta. 🙂
O caminho de volta também foi pacífico, mas com alguns troços um pouco mais stressantes – havia muito trânsito, e a estrada não permitia ultrapassagens seguras facilmente. Mas fez-se e correu tudo muito bem, usando as técnicas já anteriormente aplicadas: circulação ocupando totalmente a nossa via, normalmente circulando a par, organização em dois grupos não muito afastados, e comunicação eficaz dentro de grupo e com os automobilistas que nos seguiam.
Quando chegámos à estação fluvial da Trafaria, a Mutthilda já estava KO de tanta correria e tanta brincadeira naqueles 3 dias, dormia que nem um bebé. 🙂
A minha bicla.
Já na margem Norte, pedalámos juntos até ao Areeiro, onde depois cada um seguiu até ao seu destino.
O percurso de regresso a Lisboa foi este mais este. Foram uns 45 Km feitos em 4 horas.
Tivémos imensa sorte com o tempo nestes 3 dias, esteve um sol e uma temperatura fantásticos. Tudo correu bem, com os miúdos, com a circulação na estrada, com o campismo, tudo. Foi óptimo e adorámos. Para primeira experiência do género (com amigos, crianças e cães) não podia ter sido melhor e só nos deu vontade de repetir!
S24O [lê-se ésse-tu-fór-ou], é uma abreviatura para “Sub-24hour-Overnight“, um tipo de campismo de bicicleta promovido por Grant Petersen da Rivendell Bicycle Works como uma forma fácil de passar mais tempo lá fora numa bicicleta. Ao contrário do touring convencional, a s24o incentiva a fazer viagens curtas (sub-24horas) de campismo. A lógica é que se for curta e descomplicada, é mais fácil de organizar e mais fácil de fazer acontecer. Só se leva a bicicleta e o equipamento necessário.
Uma s24o ocupa menos de 24 horas, o que significa que dá perfeitamente para sair ao fim da tarde de sábado e estar de volta a tempo do almoço de domingo, ou seja, dá-nos tempo para tratarmos dos nossos afazeres domésticos e dos nossos compromissos familiares de fim-de-semana, e ainda assim encaixar uma microaventura de bicicleta, pedalar e passar algum tempo num ambiente natural. A Laura e o Russ explicam com um exemplo:
A outra grande vantagem é que, como é uma coisa de um dia para o outro, o equipamento e mantimentos necessários são reduzidos ao mínimo, ou seja, vamos mais leves, e não temos que perder muito tempo em preparações, nem preocuparmo-nos por não termos todo o equipamento ou o equipamento “certo” – é só um dia, desenrascarmo-nos-emos, amanhã de manhã estaremos de volta a casa. Para quem tem crianças pequenas, isto torna também mais fácil levá-las!
Finalmente, estas s24o permitem-nos ir fazendo testes simples e fáceis: testar a bicicleta, testar a tenda, o fogão, a arrumação, a roupa que usamos, o planeamento das rotas, a experiência em si e nós próprios! Ou seja, vamos facilmente afinando preferências e optimizando processos, tornando mais fácil metermo-nos em viagens maiores, ou mesmo grandes viagens.
A nossa mui aguardada primeira viagem de 2015, yeaaah!
Éramos 4 adultos, 3 crianças dos 6 aos 9 anos, e 1 cão. Pedalámos até ao Meco no primeiro dia, acampámos, fomos a pé até à praia no segundo dia, e pedalámos de regresso a Lisboa ao terceiro dia.
O H. e o R. estavam em pulgas! A sua primeira viagem de bicicleta com campismo, e ainda por cima a Mutthilda também ia! 😀
O tempo estava fan-tás-ti-co. Tudo correu maravilhosamente bem. Foi mesmo muito fixe, e só queremos é fazer mais disto. 🙂