Este post faz parte de uma série: Lisboa-Messines-2013! As fotos estão aqui.
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DIA VI, 24 de Agosto, sábado
Aljezur –> Sagres
Cerca de 55 Km de pedaladas
O nosso caminho do dia foi mais ou menos este:
De manhã, no parque de campismo do Serrão, enquanto arrumávamos as coisas para partir, pusémos os gadgets electrónicos a carregar e esperámos que as toalhas secassem (de noite nada seca por causa do orvalho, quase ficam mais molhadas do que antes de as deixarmos lá).
Arrancámos rumo a Aljezur, que ficava a 3 Km do parque, para almoçar. Havia bastante movimento. Era sábado, dia de mercado, e aproveitámos para ir comprar fruta boa! Depois passámos a ponte e fomos comer melancia e pêssegos para um pequeno parque com muita sombra, e observar as cobras e peixes e afins na ribeira.
Depois disto voltámos um pouco para trás, e fomos comprar umas coisas ao Intermarché depois de um taxista nos dizer que era o único sítio ali tipo supermercado. Distraí-me com as horas, e entretanto já passava das 14h30, e alguns restaurantes já tinham a cozinha fechada. Então voltámos ao “centro”, passámos o mercado municipal e entretanto lá encontrámos um sítio onde almoçar “tarde”. Curiosamente, também havia minimercados ali naquela rua (é o que dá perguntar coisas a taxistas, que andam de carro todo o dia).
Como um lugar livre mesmo em frente, estacionámos as biclas (que não têm apoio de descanso, por isso, mais uma vez, vivam as Rok Straps!).
Aljezur Cycle Chic? 🙂
Um luxo, biclas logo ali ao lado! Estávamos sempre de olho a ver quando é que vinha um tipo lançado contra elas, a pensar estacionar sem reparar que elas estavam lá. 😛
Entretanto chegou um casal espanhol também para almoçar, ainda mais tarde que nós. 😛
Esta rua em Aljezur é parte de uma Estrada Nacional, a N120, e tinha um movimento considerável, nomeadamente de camiões. Lembro-me destacena quando lá passei há 10 anos, de ficar abismada como é que se permitia aquele volume e tipo de tráfego numa rua em que os passeios são meros pequenos pára-choques das casas:
O cruzamento de alguns camiões e afins numa curva antes do mercado municipal era complicado, e os peões não têm espaços decentes. Aquilo não está certo. Lembrava muitas ruas de Lisboa, mas com camiões.
Enquanto almoçávamos vi passar um grupo de 3 ciclistas que também deviam estar a fazer uma viagem como a nossa, em biclas de BTT. 🙂
Entretanto, depois de bem almoçados, lá seguimos rumo a Sagres. Mas quando estávamos a tirar as Rok Straps para soltar as bicicletas estacionadas, surge uma senhora do restaurante onde acabáramos de almoçar e mete conversa. E começa a dizer que aqui há pouco tempo uns amigos tinham feito uma coisa parecida, com os filhos, num atrelado. “Hmm, e esses amigos, como se chamam?”, perguntámos-lhe, olhando um para o outro. “Filipa e João”. “Ah, conhecemo-los, sim!” O mundo é pequeno! Falámos destas pequenas “loucuras” de uns e outros (tão sãs!) , ela desejou-nos muita sorte, e lá seguimos nós.
O primeiro troço, pela N120 até à bifurcação onde continuámos pela direita pela N268 (para a esquerda seguia a N120 para Lagos) foi mais movimentado. Havia algum trânsito automóvel, e também alguns camiões. A estrada era boa mas tinha uma berma pequena (é melhor uma estrada sem berma nenhuma do que uma com uma berma que nós não possamos usar em segurança como via). Não sei se era por ser sábado, pareceu-me haver mais trânsito e mais apressado.
Depois já na N268 apanhámos longos troços de estrada a subir e a descer, sinuosa. Puxou por nós, mas tínhamos almoçado bem! 😛
A paisagem era bonita e o dia lindo reforçava-a. Parámos um pouco para a apreciar e fotografar as vaquinhas que pastavam lá em baixo com um quase ensurdecedor ruído de badalos. 🙂
Depois da Carrapateira, onde não fomos espreitar a praia, para não chegarmos muito tarde a Sagres, foi onde a estrada começou a melhorar em termos de trânsito, apesar de o pavimento não ser tão bom (mas era perfeitamente adequado, ainda assim). Era bom também pelas árvores que ladeavam a estrada, tornavam-na mais agradável.
Continuámos sempre a pedalar em posição primária e fazendo o “control & release” quando necessário. A posição primária é entre o centro da via de trânsito e a marca do rodado direito dos automóveis, consoante as circunstâncias e a estrada em causa. No curso “Condução de Bicicleta em Cidade” aprende-se a aplicar este e outros conceitos. Do “control & release” falei neste post.
As pessoas têm imenso medo de serem levadas à frente ou mandadas ao chão por um carro, mesmo na cidade, onde isso é mais raro, mas principalmente em estradas nacionais e rurais, onde é o acidente mais comum, dado que há poucos cruzamentos, as estradas são longas, etc. Nós tínhamos noção desse risco acrescido deste tipo de acidente, e por isso mesmo mantivémos a posição primária nas estradas onde a berma não podia ser usada como via de trânsito (algo que só será legal a partir de Janeiro de 2014, mas que já muita gente faz por razões óbvias). Este tipo de acidente acontece porque um condutor ou não vê o ciclista ou avalia mal a sua velocidade ou posição e até o espaço para ultrapassagem. Se um condutor nos vê toma as medidas necessárias para lidar connosco (abranda e/ou ultrapassa). O perigo não é estar “no meio da estrada”, é não sermos vistos (a tempo) e/ou não comunicarmos a mensagem correcta, de forma a permitirmos às outras pessoas reagirem atempadamente e adoptarem os comportamentos adequados.
Por isso é fundamental estarmos onde possamos ser vistos (onde as pessoas já estão a contar encontrar outros veículos) e sermos visíveis (luzes, contraste, movimento).
Aqui está o Bruno, lá ao fundo, perfeitamente visível logo a grande distância, e a comunicar inequivocamente que não será possível ultrapassá-lo sem usar a via da esquerda, pelo que todos os condutores que o encontram no caminho têm muito tempo para preparar adequadamente a ultrapassagem (abrandar, aguardar uma zona da estrada com visibilidade suficiente, esperar que não haja trânsito em sentido contrário e efectuar a manobra) – e como ele deixou espaço à sua direita, e vai monitorizando a ultrapassagem pelo espelho retrovisor, tem sempre um espaço de reserva que pode usar para se desviar, se necessário, se algum condutor não efectuar da forma mais correcta essa mesma ultrapassagem. Ver, ser visto, comunicar, dar espaço para erros. Na nossa escola ensinamos a aplicar estes conceitos e valem tanto na cidade como fora dela, como pudémos avaliar pessoalmente nesta viagem
A dada altura chegamos ao parque eólico onde 10 anos antes andámos também, e vamos tirar as fotos da praxe, claro! 🙂
Estava lá uma autocaravana (mais uma!), um pai e dois miúdos foram ver as torres também, e ele ofereceu-se, em inglês, para nos tirar uma foto, ainda antes de ter percebido que não éramos estrangeiros (depois tirou a foto à mesma :-P). Queremos contribuir para que isto deixe de ser algo que se associe a estrangeiros, os portugueses também merecem usufruir do seu belíssimo território, em bicicleta, bolas!
Já perto de Sagres seguimos pela berma da N268, a boa velocidade (mas não a par, que a nossa velocidade e a largura da berma não eram compatíveis). A dada altura apercebemo-nos que havia um troço da Ecovia do Algarve ali ao lado, mas não sabíamos como lhe poderíamos aceder nem para onde ia, pelo que era irrelevante – e a berma da N268 estava a prestar bom serviço na altura.
Fomos por uns atalhos de terra e lá alcançámos o parque de campismo de Sagres da Orbitur, ainda “de dia”! 🙂
Entretanto pôs-se uma ventania e um frio algo desagradáveis, pelo que sofremos um pouco a montar a tenda. Optámos por jantar no café do parque. Essa experiência, e depois os balneários também, deixou-nos uma sensação de alguma decadência deste parque, o que é uma pena. 🙁
CONCLUSÕES para a posteridade:
- um relógio de pulso pode ser boa ideia, para não nos distraírmos com as horas (que afectam as opções para almoçar, por exemplo)
- o parque de campismo de Sagres é para evitar se conseguirmos descobrir uma alternativa melhor (não é mau mas também já não é bom)
- o parque de campismo de Sagres era ventoso à noite mas agradável durante o dia
- não questionar a rota definida pelo homem do leme se decidimos não contribuir à partida para definir a mesma 😛
- não será nada mal pensado investir mais tarde num sistema destes para nós, se encontramos uma solução que não requeira o capacete (que não usamos) como suporte :-/ Permitirá comunicarmos melhor, e mais frequentemente quando não podemos seguir a par, e ainda dá para ouvir música, que foi algo de que senti falta em alguns troços mais monótonos