Estávamos perto do final de Agosto. Fazia calor, queríamos praia mas também queríamos sair e ir a algum sítio novo. Só tínhamos dois dias. Resolvemos repetir o destino de uma ciclo-escapadinha feita um ano antes, à praia fluvial do Agroal, mas com uns twists.
Em 2016 tínhamos apanhado o comboio Regional até Seiça-Ourém, e pedalado até ao Agroal, fazendo o caminho inverso para regressarmos. Apanhámos algumas subidas duras, principalmente dado o calor que se fazia sentir.
Este era um destino que andávamos a ponderar levar os nossos alunos e ex-alunos da Escola de Bicicleta da Cenas a Pedal, no âmbito do Recreio, mas para isso teríamos que desenhar uma rota mais adequada. Então, este ano resolvemos explorar novas opções. O objectivo original era fazer parte da Rota 2.09 Pombal – Ourém, do Road Book da Rede Nacional de Cicloturismo, do Paulo Guerra Santos, no primeiro dia. Faríamos um desvio em Albergaria dos Doze para passarmos pelo Casal dos Bernardos e almoçarmos com familiares, seguindo depois para o Agroal. Ali pernoitaríamos, em modo bivaque, e passaríamos a manhã do dia seguinte, antes de nos pormos a caminho, fazendo parte da Rota 2.10 Ourém – Entroncamento, a partir de Fungalvaz ou Paialvo.
Fomos muito optimistas. 🙂 Apanhámos temperaturas de mais de 40 ºC e isso levou-nos a alterar o plano original. Assim, no segundo dia ficámos mais tempo na praia, para não apanhar tanto calor e curtir a água gelada até à última, e depois fomos apanhar o comboio a Caxarias, por um novo caminho escolhido com a ajuda de malta da zona, para evitar grandes declives.
Foi fixe, 60 Km em dois dias, passando por sítios familiares mas ainda não percorridos em bicicleta.
A ida: Lisboa – Pombal em Intercidades
Desta vez fomos de Intercidades. Não conseguimos comprar bilhetes com bicicleta pela net, mas o comboio parecia vazio e arriscámos comprar bilhetes normais. Chegámos lá, falámos com o revisor e tivémos sorte, havia efectivamente ganchos livres. Nem precisámos de desmontar e embalar as bicicletas. Yes!
Na estação de Pombal comemos e tomámos um café, o que nos atrasou um bocado, engonhámos um pouco.
Pouco depois de sairmos da estação passamos por uma ciclovia pelo meio de um parque agradável.
A rota do Paulo levou-nos por caminhos simpáticos, uns asfaltados, outros em terra batida, mas nada de muito complicado.
A dada altura tirámos a grelha do cesto da Mutthilda para ele se sentar e ir mais fresca. Não lhe deu para saltar mas empoleirava-se na borda do cesto como se o quisesse fazer. Parecia que queria ser ela a conduzir, a ir à frente na bicicleta. 😛
Pouco ou nenhum trânsito automóvel, só algumas subidas, que custaram mais pelo calor do que pelo declive.
O nosso plano era ir almoçar com a família ao Casal dos Bernardos. Contudo, estava tanto calor que houve uma altura que pensei que não iria conseguir continuar, estava quase a sentir-me ligeiramente indisposta. Depois parámos à sombra, descansámos, bebemos água e continuámos. Logo a seguir parámos para comer um gelado, e despejar um bocado de água pela cabeça e pelo tronco. Fez maravilhas. Foi muito mais fácil continuar.
Entretanto, ao chegarmos a Albergaria dos Doze, altura em que teríamos que decidir a rota a tomar, um desvio à do Paulo, parámos à sombra de uma casa. Um senhor saiu de uma casa e veio meter conversa connosco. Vivia em Lisboa e também andava por ali de bicicleta, mas trazia-a no carro. Disse-nos que mais ali à frente havia uma fonte onde nos poderíamos refrescar. Excelente dica. Lá pedalámos uns metros para ir tomar um “duche” de arrefecimento. 😛
A partir daí a rota era nova. Apanhámos estradas asfaltadas, mas com algumas subidas, mas praticamente sem carros (um domingo de agosto, à hora de almoço, num dia de temperaturas acima de 40 ºC).
Finalmente chegámos aos Casais! Ufa.
Depois de um almoço tardio e umas horas com a família, metemo-nos a caminho do Agroal.
Apanhámos um belo fim de tarde, e ainda parámos para confraternizar com uns burros simpáticos.
Era uma estrada sem trânsito automóvel e a Mutthilda pôde correr ao nosso lado, feliz.
Como saímos mais tarde, sabíamos que o Parque Natureza do Agroal, que permite o campismo, e que usámos no ano anterior, já estaria encerrado. A nossa esperança era que houvesse outros campistas para nos abrir o portão. O plano B era pernoitarmos mesmo na praia. Tivémos uma sorte do caraças e cruzámo-nos com a única família que lá estava, quando regressavam ao parque, já de noite. Foram simpáticos e deixaram-nos entrar com eles.
No pico do Verão, éramos só duas famílias a pernoitar ali. Não compreendo muito bem como não há mais gente a aproveitar estas condições para acampar ali tão perto da praia…
É engraçado rever estas fotos. Se alguém me dissesse há tão só 5 anos atrás que um dia andaria a dormir ao relento dentro de um saco-cama-tenda, não acreditaria. Sempre fui um bocado “coisinha” com estas coisas. Tudo limpo e arrumado, bichos na casa deles, não na minha. Conforto como um valor importante sempre. Que bom é crescer, trocar de ideias, arranjar umas novas, reciclar outras, reinventarmo-nos. 🙂
Bom, de manhã arrumámos o estaminé e fomos cedo até à praia (há que marcar o lugar, em Agosto aquilo fica cheio de gente!).
Abancámos e ali ficámos a curtir o dia. Mas antes ainda fizémos uma pequena caminhada pelo percurso mais curto (não havia tempo para o longo).
Fomos algumas vezes refrescar às águas geladas da piscina da nascente, e a Mutthilda também foi brincar para a água mais a jusante.
Ainda nadou um pouquito de nada! Mas não o faz espontaneamente. Temos um longo caminho a percorrer ainda…
Quando o calor aliviou um pouco, zarpámos de volta a Lisboa. Desta vez tomámos um caminho diferente, e fomos apanhar o comboio a Caxarias, em vez de Seiça-Ourém como no ano anterior. Parece-nos uma melhor opção, mais suave em termos de orografia, menos trânsito (estradas mais secundárias). Fez-se bem, à parte uns troços com piso mais degradado.
A co-modalidade com o comboio funcionou lindamente, e lá fomos nós de volta a casa, com a alma cheia com tanta coisa boa metida ali em apenas dois dias. 🙂
Todas as fotos aqui. Esta é uma volta muito fixe para se fazer com amigos e família. Que bênção é viver num país em que podemos fazer isto, e usufruir desta natureza, deste campo, e destas infraestruturas. 🙂
Obrigada à CP – Comboios de Portugal pela boleia, obrigada à Protecção Civil pela vigilância em época propensa a fogos, obrigada ao Parque Natureza do Agroal e à Câmara Municipal de Ourém pelo alojamento e pelas infraestruturas no Agroal, e obrigada ao Paulo por criar o seu Roadbook.